domingo, abril 15, 2012

Como posso ser feliz?

Como posso ser feliz?

 Esta é uma pergunta que nos invade a mente muitas vezes e que faz correr muita tinta em jornais, revistas, livros, blogs, artigos científicos, programas de televisão, entre outros. É no fundo a pergunta que nos vai acompanhando ao longo da vida, tendo mais relevância em determinadas alturas, principalmente quando surgem problemas que nos causam dor emocional, diminuem o nosso bem-estar ou colocam em causa o nosso propósito de vida. Em tempos de amargura, quando o infortúnio nos bate à porta e as coisas parecem nunca mais tomar um rumo que nos beneficie, lá vem a pergunta: “Como posso ser feliz?”

No artigo: Porque é que não consigo ser feliz? Passei a mensagem de que é possível construirmos a nossa felicidade, que isso depende de nós, e que acima de tudo podemos aprender a ser felizes se levarmos em consideração um conjunto de estratégias e as passarmos à ação. Reforcei esta ideia através do artigo: A felicidade é possível mas é opcional.

ASPETOS GERAIS QUE CONTRIBUEM PARA A INFELICIDADE
O artigo, porque é que não consigo ser feliz permitiu-me recolher centenas de testemunhos dos leitores, os quais na grande maioria respondi prontamente. Consegui perceber através dos variadíssimos motivos dos leitores, que a grande maioria, independentemente da legitimidade para se sentirem infelizes, incorrem em erros de processamento da informação oriunda dos estímulos desencadeantes de mal-estar, insatisfação e desagrado. A forma como processamos a informação, como a relacionamos com a noção que temos de nós mesmos, e as decisões que tomamos tendo por base as estratégias de controle do pensamento que utilizamos, jogam um papel tremendamente importantes no caminho para a construção do sentimento de felicidade.



Apresento alguns aspetos que decorrem de erros de processamento da informação:
Generalização. A pessoa estende a aprendizagem de uma situação isolada de uma das suas áreas de vida, usualmente muito significativa e que não aconteceu como esperado, passando a condicionar todas as outras áreas de vida.

Fusão. Agregado à generalização, acontece um fenómeno de dupla fusão catastrófica relativamente aos sentimentos de mal-estar e dor emocional. A pessoa funde-se aos sentimentos de momento (ou do passado) associados ao acontecimento significativo que provoca a noção de infelicidade, e passa a agir apenas de acordo com esse estado de incapacidade.

Personalização. Num estado de incapacidade, de desmotivação, de abatimento, frustração, vitimização e miserabilismo a pessoa julga ser exatamente tudo isso, personaliza esses estados como se ela fosse apenas aquilo que sente e também a ideia que formou dela mesmo, baseada e influenciada pelo momento menos bom, traumático, deprimido ou catastrófico que possa estar a enfrentar. Mas, como explicarei mais adiante, nós somos muito mais do que aquilo que nos acontece, mais do que os nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos. Somos aquele que comporta tudo isso, e que pode mudar, aprender e progredir a seu próprio favor.

Filtragem. Focamo-nos nos detalhes negativos e aumentamo-los enquanto filtramos todos os aspectos positivos de uma situação, ignorando-os. Por exemplo, uma pessoa pode escolher um detalhe único, desagradável, focando-se exclusivamente nele. Sendo que a sua visão da realidade torna-se distorcida.

Perfeccionismo. A pessoa que têm a noção ou crença que tudo na sua vida tem de ser perfeito e quando sente algum incómodo para o qual não encontra justificação, faz uma hiperavaliação do seu estado, exacerbando os seus sentimentos ou sensações físicas, identificando isso com a infelicidade, quando na verdade é apenas um erro de avaliação da experiência que vive ou já vivida.

Passado perturbador. As situações relacionadas com o passado, usualmente um passado amargurado, pessoas que sofreram nas mãos de outros, que foram abusadas, que foram denegridas, enxovalhadas, pessoas que passaram por situações traumáticas, que nunca recuperaram totalmente de situações incapacitantes, entre outras situações, são motivo suficiente para gerar infelicidade. A pessoa ficou condicionada pelas suas experiências de grande impacto emocional, transportando isso consigo e afetando-lhe a vida em geral.

O medo. Uma outra questão fortemente ligada ao sentimento de infelicidade é o medo. O medo de fracassar, de cair no ridículo, o medo de perder o controle, o medo de falar em público, o medo de enfrentar uma entrevista de emprego, o medo de não conseguir arranjar parceiro para a vida. No geral, o sentimento de medo quando se torna recorrente inibe a pessoa de fazer um conjunto de coisas nas várias áreas da sua vida. A pessoas vai restringindo o seu leque de opções e consequentemente trás prejuízo para a satisfação de vida, conduzindo à infelicidade.

Apresento em seguida alguns exemplos retirados dos comentários do artigo, e que complementei com um enquadramento explicativo acerca do conteúdo dos relatos dos leitores, fazendo ainda uma análise com sugestões para melhoramento e apresentando estratégias, conceitos e abordagens que permitem enquadrar uma forma mais esclarecida acerca de tudo o que envolve a questão da felicidade:

EXEMPLO 1:
Luciano: O que me impede de ser feliz com certeza é a falta de ser amado por alguém, não meu pai, nem minha mãe, mas sim um amor de mulher, se é que você me entende.
Este é um exemplo de generalização de um acontecimento de vida isolado, obviamente bastante significativo para a pessoa em questão, mas que mina e assombra todas as outras áreas de vida que possam estar a criar bons estímulos, a serem funcionais e a gerar alguma forma de bem-estar. Colocar um sentimento tão abrangente como a felicidade em questão baseado apenas numa avaliação de momento e centrada numa só área de vida, pode ser devastador. É imperativo percebermos que ao avaliarmos o nosso grau de felicidade importa estabelecermos relações com os vários papéis que representamos na vida, com as várias áreas em que nos movimentamos e ainda com o passado, com presente e com a perspetiva de futuro. Se ignorarmos estes fatos, corremos o risco de pagarmos uma fatura muito cara. Paga-se com uma noção distorcida de infelicidade. Uma vez que exista a crença e a noção construída que a pessoa não está a ser feliz, assim sendo não está feliz.

EXEMPLO 2:
José Carvalho: O que me impede de ser feliz, nem eu próprio sei porquê. Sou estudante tenho amigos, nunca tive problema com miúdas, sou popular sou bonito, alto, bom físico. Não tenho problemas económicos nem familiares, não passo fome e tenho excessos, consigo tudo aquilo que quero mas por vezes falta a felicidade. Sou uma pessoa inteligente, bom amigo, não dou confiança a pessoas que não gosto, vivo muito bem, sou social não tenho problemas em conversar com as pessoas e até me destaco pela positiva. Faço exercício regularmente, ginásio, surf, etc.. Por amor de Deus, o que me falta para a felicidade? Sinto que tenho um dom para a psicologia, e sinto facilidade em analisar a personalidade das pessoas, e em 10 minutos de conversa falo da vida toda da pessoa, e acerto bastante. Daria um bom psicólogo, só não consigo analisar-me a mim próprio. O que falta para ser feliz? Acho que é falta de energia, talvez dormir pouco simplesmente. Chego cansado à escola de manha e fico um pouco inactivo devido ao cansaço, cansaço este acumulado à meses. Será possível uma fadiga levar à minha infelicidade?
Na descrição de infelicidade do José Carvalho, e tal como ele afirma, não existem razões significativas para se sentir infeliz. Então porque se sente ele infeliz? Este é um caso de associação de algumas sensações físicas desagradáveis (no caso dele, fadiga extrema) ou eventualmente um sentimento de incapacidade para lidar com os baixos níveis de energia.

O que respondi diretamente ao José Carvalho acerca da descrição dele foi: Respondendo à sua questão, não direi taxativamente que a fadiga provocará infelicidade. No entanto, sem dúvida que pode contribuir para algum mal-estar. Dificulta o raciocínio, a concentração a disponibilidade para enfrentar algumas situações mais difíceis, altera o nosso estado de humor (diminui).

A fadiga é condição suficiente para alterar o estado de humor, tensão física, promove os estados deprimidos, aumenta a irritabilidade e consequentemente a pessoa sente um enorme desagrado. Mas considerar o estado do José carvalho e catalogá-lo como infelicidade, é tudo menos sensato. Como é óbvio a pessoa que sente a sua vida abalada pode interpretar o seu estado como infelicidade. E se interpreta dessa forma, obviamente sente-se infeliz. No entanto se conseguir fazer uma avaliação mais cuidada pode perceber que não se trata de infelicidade mas de um outro aspeto que necessita da sua atenção e cuidado.

Dica: Só porque nos sentimos insatisfeitos com algo ou com alguma situação da nossa vida, extrapolar e fazer uma avaliação drástica no domínio de um sentimento alargado como a infelicidade, considero como um erro de raciocínio.
A felicidade, ou ao invés a infelicidade é um tema que anda na boca do mundo, e na grande maioria das vezes referimo-nos a esses sentimentos complexos e dinâmicos erradamente e desadequadamente. Usar estes termos na nossa avaliação de vida, requer cuidados acrescidos, avaliações claras, sensatas e acima de tudo fundamentadas com prós e contras acerca do que se sente, do que se enfrenta no momento, e da capacidade que se tem para lidar com a situação. A tendência para associar prematuramente más sensações ou maus momentos com um estado de infelicidade, a meu ver, passa por uma crescente sensibilidade e consequente incapacidade de aceitar e aguentar algumas dessas sensações e situações como condições naturais da vida de cada um de nós.



EXEMPLO 3:
Jocilene: Olá Miguel, boa tarde. Identifiquei-me muito com esse artigo, praticamente tudo que foi citado acima faz sentido na minha vida. Esse sentimento de impotência que faz com que eu fique congelada diante da minha vida, com medo dos meus objetivos não darem certo. Com medo de ir à luta e “quebrar a cara”, isso faz com que eu fique paralisada, e com isso eu não tenha forças para mudar essa situação. Sinto-me incapaz também, e isso me deixa super triste. Pensei até em passar em um psicólogo para que ele possa me ajudar a ter uma expectativa de vida melhor, objetivando tirar esses pensamentos ruins da minha mente. Ah, e existe outro motivo o qual não me permite tentar ser feliz, o passado. Amo meu ex-namorado, mas não consigo tirá-lo da minha vida, e ele também não faz o menor esforço para nos deixar abandonar o passado. Já ouvi dizer que agente precisa se livrar de coisas que não nos fazem bem, e a questão está aí, essa relação não me faz bem, por que nós nunca podemos ficar juntos, pois sempre aparece algo ou alguém para impedir que possamos ficar juntos e somos completamente diferentes um do outro, e isso me deixa super mal, por que não temos uma relação estável, mas também não nos separamos definitivamente. E isso me causa um desgaste enorme, emocionalmente falando, e isso interfere sim de maneira indireta nas “causas que não me permitem ser feliz”.
Como a Jocilene descreveu, o seu sentimento de impotência devido a uma série de medos, paralisou-lhe grande parte das ações que podia ter tomado para ir ao encontro dos seus desejos e objetivos. Esta é uma questão inerente a muitos de nós. Isto sucede porque o sentimento de medo coloca-nos num estado exagerado de proteção, fica-se tremendamente receoso que algo de mal nos aconteça se fizermos determinadas coisas. Quando não nos propomos aos desafios, nem a colocar em marcha estratégias e ações que nos conduzam ao que queremos, gera-se um sentimento de frustração e de tristeza. Se a pessoa recorrentemente adota este tipo de atitude negativa irá ver a sua felicidade negativamente afetada.

Relativamente à questão que por vezes tanto sofrimento inflige na vida de cada um de nós, falo aqui especificamente dos relacionamentos íntimos. Esta era uma preocupação acrescida da leitora.

Apresento uma parte da resposta à Jocilene: Relativamente ao seu relacionamento, tente perceber o que gostaria de mudar e/ou melhorar, escreva isso numa folha de papel, depois tente falar com o seu parceiro e ver se é possível fazer algo para alcançar alguns desses objectivos. Caso não seja, pondere repensar o que quer para a sua vida, sem o seu parceiro. Se depois dessa avaliação julgar que não vale a pena investir na relação, pense numa forma saudável de a abandonar e seguir com a sua vida.

EXEMPLO 4:
Vanessa: O que me impede de ser feliz não se restringe a uma situação única, mas sim a várias. Sempre sinto que falta algo, até quando não devia sentir, ou então quando algo de bom acontece, tenho a sensação que algo de pior está por vir. Sou uma pessoa muito ansiosa, desde a infância. Hoje, adulta, carrego a ansiedade junto a solidão, tristeza e muitas decepções. Não tenho amigos, com quem conversar, namoro um rapaz mas não consigo confiar nele, nem me sinto feliz ao seu lado. Não consigo mudar essa minha realidade, por mais que tente.
Na descrição das razões da infelicidade da Vanessa conseguimos perceber alguns dos erros de processamento da informação que se enraizaram em crenças disfuncionais. Avalia o seu grau de felicidade fazendo uma fusão aos seus sentimentos, dizendo que lhe falta algo, não sabe identificar o motivo, mas sabe que se sente mal. Ao seguir esse sentimento tremendamente subjetivo e isolado de fatos, incorre na fusão sentimental que decorre posteriormente num ciclo de mal-estar que vai enraizando a ideia (crença) que lhe falta algo para alcançar a felicidade.

O outro aspeto, é a incapacidade de conetar-se às suas boas sensações, levá-las em consideração e fazer um avaliação positiva que reforce a sua noção de satisfação e consequentemente de felicidade. Ela refere que quando algo de bom lhe acontece, teme depois que algo pior possa acontecer. Agregado à desvalorização das suas boas sensações, ativa a preocupação face ao futuro, a algo inespecífico que teme vir a acontecer, podemos chamar a este fenómeno um erro de pensamento (distorção cognitiva) que em psicologia se apelida de cartomancia, acreditar prever o futuro, neste caso um futuro catastrófico.

O último aspeto relatado pela Vanessa prende-se com o fato de caminhar na vida agarrada ao passado, evidenciando uma dupla fusão, ou seja, transporta para a  sua vida momento a momento os acontecimentos incapacitantes do passado e igualmente as emoções e sentimentos vividos nessa altura. Refere ainda desconfiar do namorado. Independentemente de poder ter razões concretas para este fato (que desconhecemos no relato da Vanessa), o que acontece é que no estado de receio, medo e ansiedade em que se encontra é possível que na grande maioria do tempo esteja em modo de proteção, numa situação de “luta” ou “fuga”, não estabelecendo laços sociais duradouros. Por isso relatar que não tem amigos. Evidentemente não consegue mudar a sua realidade, dado que vive sempre no mesmo estado dia após dia, impedindo que possa viver feliz.

Caso pretenda aprofundar o assunto da possibilidade de criar uma outra realidade para si e consequentemente fazer uma mudança positiva na sua vida, leia o artigo: 4 Obstáculos à mudança de vida positiva.

Redefinição de conhecimentos:
Caro leitor, caso se identifique com alguns dos erros de pensamento e estes possam estar a contribuir para a sua infelicidade, é importante redefinir alguns dos seus conhecimentos acerca do seu ótimo funcionamento enquanto ser humano, da influência que as avaliações que faz têm nos seus estados de humor e da tremenda armadilha que é julgar que você é os seus sentimentos, pensamentos e comportamentos. Isto é esperançador no sentido de ter a possibilidade de resgatar a sua felicidade. Uma forma de termos um sinalizador que nos permita termos equilíbrio emocional são os nossos valores, que podemos seguir através da nossa capacidade de autoregulação.

Transcrevo uma parte do artigo: Auto-regulação, para sentir-se melhor foque-se no mais importante, em que dou um breve esclarecimento acerca da ideia de que somos muito mais do que as coisas às quais nos fundimos e consequentemente nos toldam as possibilidades de perspetivar a mudança positiva de vida:

Excerto: “Em grande parte dos artigos tenho vindo a expressar a informação que não somos os nossos sentimentos, nem pensamentos, nem comportamentos. Nós somos aquele que sente, pensa e age de acordo com um conjunto de valores, motivações, interesses e objetivos. Desta forma, se agirmos erradamente e comprovamos não estarmos alinhados com os nossos valores ou interesses, temos sempre a possibilidade de numa próxima oportunidade agir de forma mais adequada. Se fracassarmos, não nos tornamos automaticamente num fracassado. Se agirmos com hostilidade, não passamos necessariamente a ser daí para o futuro pessoas hostis. Mas não passamos a ser se conseguirmos regular-nos de acordo com as referências que escolhemos para orientar as nossas escolhas e caminhos a tomar na vida. Sem isto, ficamos à mercê das nossas emoções, que são voláteis, temporárias, fluídas e subtis.”
Partindo do principio que o fim último de qualquer ação, desejo, objetivo ou propósito na vida é experienciar um determinada emoção ou sentimento, conseguirmos regular e gerenciar os nossos estados emocionais joga um peso tremendo para o alcance da nossa felicidade.

Uma das capacidades a desenvolver para a promoção da nossa felicidade e consequente promoção de sentimentos elevados, capacitadores, alegres e satisfatórias é a autoregulação. Na perspetiva comportamental, a autoregulação é a capacidade de agir no seu melhor interesse a curto, médio ou longo prazo, de forma consistente e comprometido com os seus valores mais profundos. A violação dos seus valores  pode fazer disparar sentimento de culpa, vergonha e ansiedade, que prejudicam o bem-estar. Na perspetiva do bem-estar emocional, a autoregulação é a capacidade de acalmar-se quando está chateado, irado, fulo ou descontrolado e motivar-se, energizar-se e elevar-se quando você está para baixo, triste ou infeliz. A autoregulação estabelece assim uma forte relação com a capacidade que cada um de nós tem para gerir as emoções.



EXEMPLO 5:
Rochelly: Olá! Com certeza suas palavras devem ser maravilhosas para tudo, mas minha tristeza é tão profunda que não consegui ler. Não sei o que quero, nem do que gosto, nem por que me sinto infeliz, será que você me entende? Porque nem eu mesma consigo entender…tenho vontade de dormir, dormir, dormir,ou seja, de ficar em um lugar inconsciente para não precisar pensar em nada. Me sinto tão só, mesmo acompanhada, nunca descobri o que gosto de fazer profissionalmente, sou casada há 17 anos e tenho um casal de filhos lindos e mesmo assim sou infeliz. Será que você me entende? Parabéns pelo trabalho.
O problema da Rochelly, provavelmente está relacionado com a incapacidade de estabelecer objetivos, fazer planos e perceber o que a reforça e é significativo para a sua auto-realização. Inevitavelmente quando caminhamos na vida sem estabelecermos laços emocionais com algo que possa contribuir para a nossa satisfação, caímos num vazio devido à ausência de reforço. Todos necessitamos de um sentido de eficácia na nossa vida, onde possamos aplicar as nossas habilidades, qualidades e interesses. Na ausência de estímulos que captem a nossa atenção estabelecendo uma forte ligação emocional, a tristeza instala-se, enraíza-se, e o nosso valor, autoestima e autoconceito fica abalado. Neste cenário o sentimento de infelicidade emerge.

Descubra o que o reforça:
Se enfrenta na sua vida a mesma situação de indecisão e de indefinição de estabelecimento de objetivos por não saber o que gosta ou gostava de vir a fazer, importa investir algum do seu tempo no entendimento do que pode ser significativo na sua vida de acordo com alguns dos seus valores pessoais. Para ajudá-lo nessa tarefa, pondere ler os artigos:

■7 Conceitos para descobrir o seu poder
■Clarifique a sua visão de sucesso
■Construa o seu futuro
As nossas emoções têm uma função orientadora na nossa vida, estando constantemente, momento a momento a enviarem-nos estímulos que sentimos no nosso corpo sobre a forma de sensações corporais, e que convertemos em sentimentos (a forma apurada das emoções) quando ficamos cientes do que estamos a sentir. Associamos um sentimento à experiência do momento. Vejamos o seguinte, se não soubermos aquilo que nos transmite boas sensações (interesses, objetivos, metas, desafios), tendemos a ficar desorientados, dado que não geramos estados internos relacionados com as nossas realizações ou experiências do momento, pois nas experiências anteriores (acontecimentos do passado) não memorizámos uma sensação de realização, satisfação ou de alegria emparelhado a algo que nos faça disparar as emoções. Permanecendo neste registo de ausência de ligações fortes entre os acontecimentos e as supostas emoções, as que emergem no dia-a-dia estabelecem uma relação com o estado geral de infelicidade oriundo da não realização pessoal. Essas emoções são essencialmente negativas.

EXEMPLO 6:
Bel: Bom dia Miguel Lucas são exatamente 7:04 horas da manhã estou acordada desde as 5:00 horas, não consigo dormir, sinto muita tristeza algo que não consigo explicar, me sinto frustrada, não me sinto realizada. Estou com 38 anos me sinto velha e desmotivada. Sou casada tenho um filho mas me sinto muito infeliz, desde da minha infância que sinto falta do amor de mãe. Fui criada pela minha mãe e pai mas sempre me senti diferente. Tenho cinco irmãos mas acho que minha mãe gosta mais dos outros do que de mim, isso me deixa muito triste pois nas atitudes dela deixa transparecer que tem preferências pelos outros e não por mim. Uma vez ela conversando chegou a dizer-me que quando engravidou de mim, ela não queria e pensou até em tomar remédio, mas por ser religiosa deixou a gravidez continuar. Mas ela não criou amor à criança que eu era e por isso nunca fui amada e cuidada como deveria ser. Quando eu tinha 8 anos, ela foi embora, abandonou a casa e deixou-me com os outros irmãos mais velhos. Eu me lembro que eu chorava muito com saudades dela, isso me prejudicou nos estudos e tive muita dificuldade no aprendizado pois não conseguia estudar, eu só chorava, ia para a escola chorando e voltava chorando. Já me casei mas não consigo ser feliz, meu marido e um ótimo marido, tenho um filho, mas essas lembranças do passado me acompanham me fazendo ser infeliz. Hoje estou cursando o quarto semestre de serviço social. Me ajude, preciso me libertar dessas lembranças que me atrapalha de viver meu presente com felicidade.
Se verificarmos atentamente o discurso da Bel, podemos constatar que referiu-se sempre à sua infelicidade em termos de sentimento: “sinto muita tristeza, me sinto frustrada, não me sinto realizada, me sinto velha e desmotivada, me sinto infeliz, me senti diferente.” O fim último de qualquer ação, objetivo ou desejo é obter um determinado sentimento. Somos seres emocionais, sensíveis e como tal o que sentimos toma automaticamente a nossa especial atenção. Desta forma, as avaliações que fazemos sofrem uma forte (em alguns casos a totalidade) influência daquilo que sentimos em relação ao acontecimentos, e de igual forma de como nos sentimos em geral na nossa vida. As nossas emoções e sentimentos são formas rudimentares e muito subtis de nos transmitirem informações acerca dos eventos da nossa vida e, se existem ou não discrepâncias entre o que desejamos e aquilo que obtemos.

Como as emoções nos enviam sinais subtis, informando-nos através de boas ou más sensações acerca do que estamos a viver, quando estamos a enfrentar maus momentos, as sensações enviadas vão ser desagradáveis, vão fazer sentir-nos mal. Estas más sensações, ou maus sentimentos (sentimentos negativos) servem apenas para alertar-nos acerca da discrepância detetada entre o que desejamos e o que não estamos a obter. Informam-nos que algo não está a correr como desejaríamos, algo não está bem, ou precisa da nossa atenção redobrada.

Como essas más sensações nos fazem sentir mal, se processarmos essa informação de forma incapacitante e incorrermos em erros de processamentos da informação que nos chega em forma de sentimento, vamos cair certamente em análises do género:

■Generalização
■Personalização
■Fusão, ou dupla fusão
■Receio extremo (medo)
■Cartomancia
■Punição de nós mesmo (autosabotagem)
■Preocupação extrema (ruminação)
■Filtragem
■Culpabilização
Como a Bel, ao longo da sua vida foi vivendo acontecimentos que lhe geraram mal-estar e consequentemente sentimentos incapacitantes aos quais se colou, se fundiu, levando à personalização e avaliação catastrófica da sua vida, o sentimento de infelicidade foi estando sempre presente. Isto acontece porque a pessoa fica presa ao seu passado, aos acontecimentos de vida que a marcaram emocionalmente. Ao ponto de ter accionado a filtragem, ignorou ou não deu valor a grande parte dos acontecimentos de vida positivos que teve e ainda tem na sua vida, ficando a sua atenção focada nos aspetos negativos, frustrantes e decepcionantes.

“Já me casei mas não consigo ser feliz, meu marido é um ótimo marido, tenho um filho, mas essas lembranças do passado me acompanham me fazendo ser infeliz.” – Bel
Se você se identifica com esta situação e pretende mudar para melhor, superar o problema e ganhar uma perspetiva positiva da vida, é necessário implementar novo conhecimento na sua forma de raciocinar.

Vejamos:
Perante cenários deste género, importa olhar os acontecimentos a outra luz, com nova informação acerca da razão que conduz a pessoa aos sentimentos de desesperança e infelicidade. Perceber porque fez determinadas avaliações de acordo com a forma como pensava no momento dos acontecimentos, aceitá-las, mas igualmente separar-se delas. isto permite que a pessoa possa iniciar uma reestruturação do pensamento, entender que pode agir de novas formas para criar novos sentimentos alinhados com os seus valores e objetivos de vida, e não necessariamente por aquilo que sente. Dado que aquilo que sente tem as suas raízes em acontecimentos passados e não descrevem a pessoa que é, nem os seus objetivos no presente momento.

Para que este processo possa ser eficaz, importa que a pessoa aprenda a monitorizar as más sensações, associá-las aos acontecimentos passados e não se orientar por esses sentimentos (informação subtil e desatualizada). Tem posteriormente que reorientar a sua atenção para a forma como quer ser, como quer sentir, pensar e agir, para que possa vir a sentir-se como deseja. Neste caso, passar de um estado de infelicidade para um estado de felicidade.


Link do Vídeo: http://youtu.be/FhPytrT8i5M?hd=1
Escola Psicologia TV: http://www.youtube.com/escolapsicologia

POTENCIADORES DA  FELICIDADE
De acordo com muitos estudos feitos um pouco por todo o mundo, os investigadores vão recolhendo material que permite perceber uma série de atitudes, comportamentos e formas de estar na vida que promovem o estado de felicidade. Eu concordo com a grande maioria desses autores, nomes como Martin Seligman, Sonja Lyubomirsky, Robert Biswas-Diener. Apontam algumas estratégias comportamentais potenciadoras do estado de felicidade. Como por exemplo:

■Escrever um carta de gratidão
■Voluntariado
■Saborear os momentos diários
■Evitar comparações
■Ter metas significativas
■Tomar iniciativa no trabalho
■Fazer amigos e estabelecer laços afetivos com a família
■Praticar exercício físico
■Expressar admiração, apreciação e afeto
■Aprender a perdoar e libertar o rancor
■Cultivar o otimismo
Eu próprio em outros artigos, já abordei algumas questões relacionadas com alguns dos conceitos anteriores:

■É importante colocar alegria na sua vida
■Crie um desafio que lhe dê esperança
■11 Formas de promover a sua saúde e capacidade física
■Como ser obsessivamente produtivo sem perder a sanidade mental
■Viva no presente não se paralise pelo passado
■Estrutura mental positiva: O elixir da felicidade
Embora cada um destes artigos comporte dicas, estratégias, conceitos e ensinamentos que possam contribuir para a sua felicidade, não foram especificamente pensados para esse fim, mas sim para abordar cada questão relacionada com o tema do artigo, no sentido de ir ao encontro da necessidade individual de alguns dos leitores. As estratégias, ações ou ideias referidas nos pontos anteriores podemos agrupá-las na área comportamental. Ou seja, através da tomada de iniciativa de algumas atividades o retorno desse envolvimento promove as boas sensações, sentimentos de realização, utilidade, autonomia, envolvimento, socialização, autoestima, entre outros. E, por certo promove igualmente sentimentos de alegria e consequentemente de felicidade.

No entanto, tão ou mais importante do que aquilo que se faz e das iniciativas tomadas, a forma como se faz, como se pensa e como conseguimos estabelecer novos significados para velhas formas de pensar, sentir e agir é que pode ser o fator diferenciador e esperançador para que a pessoa consiga encontrar e desenvolver em si mesmo um conjunto de estratégias mentais que possa aplicar nas mais variadas situações da sua vida. Na posse das estratégias mentais (formas assertivas e funcionais de processar a informação) a pessoa irá conseguir lidar melhor com os seus problemas de forma a criar soluções positivas e construtivas.

A saber: No fundo, é conseguir perceber como você consegue influenciar-se a si mesmo, orientar-se de acordo com os seus objetivos e valores, e regular os seus estados emocionais para caminhar na sua vida de forma satisfatória e com um senso de felicidade geral.
Se está mesmo interessado em promover a sua vida para melhor, passar a ter sentimentos mais elevados e capacitadores que possam promover a sua noção de felicidade, é preciso investir em conhecimento. Mais propriamente em saber formas de conseguir:
■Eliminar o ressentimento dos acontecimentos passados. Leia: Como libertar-se as angústias do passado
■Dar um novo significado ao passado. Leia: Como dar um novo significado aos acontecimentos passados?
■Entender os seus pensamentos e sentimentos. Leia: 7 Passos para entender os seus pensamentos e sentimentos
■Reestruturar o seu pensamento. Leia: Reestruturação do pensamento, faça perguntas capacitadoras
■Implementar o pensamento positivo na sua vida. Leia: Como implementar o pensamento positivo na sua vida?
OBSTÁCULOS À FELICIDADE
Com a participação dos leitores expressa nos comentários deixados no artigo: Porque é que não consigo ser feliz?, e das respostas que fui dando e continuo a dar, constatei que apesar do sentimento de infelicidade ser legítimo e as pessoas sentirem que o seu estado lhes afeta a vida, percebi também que a maioria dos problemas daí recorrentes deve-se essencialmente a avaliações específicas, usualmente de cariz catastrófico suportadas pelos erros no processamento de informação. Não quero passar a mensagem que os eventos que os leitores descreveram não possam ser esmagadores, não é isso que pretendo. É claro que alguns serão, e causam transtornos e angústia nas suas vidas. No entanto, o que posteriormente pode aliviar, ou ao invés aumentar ainda mais o sofrimento causado é a forma como a pessoa lida com os acontecimentos, com os seus estados emocionais e ainda que tipo de decisões toma de acordo com o que perspetiva para o seu futuro.

Perante um conjunto de incapacidades de ordem emocional e  consequentemente de ordem funcional a pessoa deixa de conseguir adequar-se eficazmente às exigências da sua vida. O ciclo de negatividade vai crescendo, a pessoa nesta condição vai-se desprezando a si mesmo, caminhando ainda mais para sua auto-derrota e subvalorização.

Certamente, para cada história, para cada problema ou situação incapacitante, algumas destas causas isoladamente ou em associação estarão na raiz da infelicidade sentida. É na verdade preciso muito mais do que provavelmente uma causa isolada. Mas, abordar um questão tão vasta quanto a felicidade é sempre uma tarefa megalómana.

Não consigo, nem é meu objetivo encontrar a solução específica para cada pessoa, ou para todas as pessoas, isso não existe enquanto algo que sirva para todos e muito menos existe num formato já pronto (tipo: aplique isto, ou faça desta forma durante “X” tempo e passará a ser feliz). Não acredito que isso seja possível, pelo simples fato que cada caso é um caso, cada pessoa vê o mundo de maneiras diferentes.

No entanto acredito que posso passar a seguinte mensagem: Sim é possível recuperar, sim é possível melhorar, sim é possível sentir-se melhor, sim é possível trabalhar na sua felicidade. É possível superar a grande maioria das condições de vida incapacitantes, com esforço, dedicação, persistência, motivação, força de vontade. Tanto mais, quanto a pessoa perceba que é capaz de orientar os seus pensamentos, criar outros mais funcionais, segui-los e ir ao encontro do que pretende vir a sentir.
Os problemas resultantes de um estado recorrente de infelicidade, são ervas daninhas que se sobrepõem à sua vontade de vir a ser feliz. Na verdade, os problemas manifestam-se na alteração dos comportamentos, atitudes, disfuncionalidade, alteração de humor, sintomas físicos, etc. O problema sente-se, mas não se vê.

Este grau de dificuldade está associado à incapacidade de ver os “erros” de pensamento (raciocínio) que fazemos, e nos conduzem ao estado de infelicidade. Existem todo um conjunto de processamento de informação efectuado por todos nós, que grande parte das vezes conduz-nos a uma imensidão de subterfúgios, associações desadequadas, ruminações, preocupações, evitamentos, lamurias, punições, que levam ao enraizamento de um padrão mental negativo.

Perante esta imensidão de estratégias de pensamento desadequadas, que aumentam a susceptibilidade às más sensações, aos pensamentos e sentimentos negativos, é necessário um elevado conhecimento das técnicas de resolução dos erros de processamento da informação a implementar no dia-a-dia.



TÉCNICAS PROMOTORAS DA FELICIDADE
No artigo: Como mudar pensamentos negativos para pensamentos positivos, e no respetivo vídeo, explico duas técnicas eficazes que você pode aplicar no seu dia-a-dia para melhor regular e controlar os pensamentos indesejados que o empurram para um estado de infelicidade.

Dica: Não é aquilo que as pessoas pensam que mais peso tem para a vulnerabilidade psicológica, mas sim como as pessoas pensam e reagem aos conteúdos dos seus pensamentos.
Felizmente, já existem modelos que permitem entender  as razões porque perante determinados acontecimentos de vida, alguns de nós desenvolvemos sentimentos de incapacidade e vulnerabilidade psicológica que nos conduz ao sentimento de infelicidade. Aponta-se para um problema comum que está relacionado com a forma como cada um de nós trata a informação. Esta informação sofre ainda influência das nossas crenças, autoconfiança no controle do pensamento e nas estratégias utilizadas para resolução do problema.

Digamos, que de acordo com a Teoria da Aceitação e Compromisso (ACT) o antídoto para a vulnerabilidade psicológica é a flexibilidade psicológica. O Objetivo é desenvolver mais flexibilidade psicológica no padrão de pensamento da pessoa. Desenvolve-se a habilidade de mudar ou persistir nos comportamentos funcionais quando estes permitem uma melhor adequação e adaptação às situações de vida.

O modelo de desenvolvimento da flexibilidade psicológica (hexaflex), é suportado por seis processos chave:

■Contacto com o momento presente
■Desapego / Desfusão
■Aceitação
■O “Eu” como contexto
■Valores
■Compromisso com a ação
Contacto com o momento presente. Isto significa estar psicologicamente presente, estar conscientemente ligado com os acontecimentos que surgem no momento presente. Normalmente passamos demasiado tempo absorvidos nos nossos pensamentos sobre o passado e o futuro. Ou, ao invés de estarmos totalmente cientes da nossa experiência, operamos em piloto automático, deixamo-nos meramente “ir na corrente”.

Desapego / Desfusão. Significa simplesmente aprender a retirarmo-nos, a separarmo-nos ou desligarmo-nos dos nossos pensamentos, imagens e memórias. O termo correto é Desfusão Cognitiva. Ao invés de sermos apanhados pelos nossos pensamentos ou sermos forçados por eles, deixamo-los aparecer e desaparecer tal como se fossem automóveis a passar à nossa porta de casa. Afastamo-nos e olhamos para os nossos pensamentos ao invés de emaranharmo-nos neles. Devemos olhar para os nossos pensamentos tal qual aquilo que eles são: nada mais, nada menos que palavras na nossa mente.

Aceitação. Significa ter abertura e dar espaço para os sentimentos dolorosos, sensações e emoções. Deixamos de debatermo-nos com a nossa experiência interna e aceitamo-la tal qual ela é. Ao invés de querermos combater, inibir, resistir ou fugir-lhe, abrimo-nos à experiência e sentimos o que se passa dentro de nós. Isto não significa querer sentir ou gostar de ter sentimentos, sensações ou emoções negativas, nem tão pouco gostar delas. Significa simplesmente dar-lhes espaço para se manifestarem em nós.

O “Eu” como contexto. Isto remete-nos para as duas partes constituinte do Eu. O Eu pensante e o Eu observador. Nós somos aquele que tem a possibilidade de observar e analisar os seus próprios pensamentos, emoções, crenças, memórias, julgamentos, fantasias, planos, etc. Temos a possibilidade de observar aquilo que sentimos e pensamos num determinado momento e num determinado contexto. E ao observarmos se não estiver de acordo com aquilo que desejamos, ou o conteúdo dos nossos pensamentos e sentimentos não nos servir, temos a possibilidade de decidir o que fazer ou gerar outros pensamentos e sentimentos mais adequados ao contexto.

Valores. Referem-se aos aspetos da vida que valorizamos, mais propriamente às escolhas de vida direccionadas e intencionais que fazemos.

Compromisso com a ação. Significa tomar ações efetivas e guiadas pelos nossos valores. É importante saber os nossos valores, mas é apenas através da contínua ação congruente com os valores que a vida se torna rica, preenchida e significativa. As ações guiadas pelos valores promovem um vasto leque de pensamentos e sentimentos, ambos, agradáveis e desagradáveis, prazerosos e dolorosos. Então, o compromisso com a ação significa “fazer o que é preciso” para viver de acordo com os nossos valores, mesmo que isso nos traga dor e desconforto.

Aplicando os seis fatores (hexaflex) na sua vida
Se no desenrolar da sua vida tiver bem presente o seu propósito, o que o reforça, aquilo que valoriza e que valores o orientam quando a dúvida e a confusão se instala, certamente funcionarão como um marco orientador. Quando alguns sentimentos e pensamentos o conduzirem para um estado de infelicidade, os seus valores podem permitir resgatar a forma como usualmente você se via a si mesmo quanto tudo corria pelo melhor.

Se você se comprometer em fazer coisas tendo por base os seus valores e estes estiverem em sintonia com os seus objetivos e desejos. Se focar a sua atenção no momento presente, no que importa fazer no aqui e agora, contextualizando a situação que está a lidar ou a enfrentar, entendê-la, aceitando-a como algo inequívoco, aceitando igualmente os sentimentos e os pensamentos que emergem, fica numa posição muito favorável para se manter emocionalmente equilibrado e saudavelmente adaptado às circunstâncias. Agregado a esta nova visão, quanto mais perceber que não é a sua tristeza, nem a sua infelicidade, que você é aquele que pode fazer uma nova interpretação fazendo um desapego, ou mais propriamente um duplo desapego das circunstâncias e dos seus pensamentos e sentimentos negativos, e intencionalmente querer ir ao encontro do que é melhor para você, irá estar um passo mais perto de alcançar a felicidade desejada.

RESGATAR A FELICIDADE
A felicidade é um sentimento ou um estado inerente à condição humana, em psicologia aplica-se o termo: Felicidade Hedónica - tem a ver com o retorno positivo das atividades consideradas prazerosas, sem esforço, sem intervenção das nossas habilidades ou competências da pessoa, como por exemplo o prazer de comer, de sentir o sol, ouvir uma música ou tirar prazer do movimento motor. É o prazer ligado aos nossos cinco sentidos. Desta forma, quando perdemos a capacidade de sentir prazer, alegria, bem-estar e consequentemente diminuímos o sentimento de felicidade oriundo de atividades inerentemente prazerosas é porque passou a existir interferências nos canais que permitem sentirmos prazer e satisfação. É porque ouve interferência ou perda de sentido no processamento de determinados estímulos (informação) para os quais estamos preparados e programados para sentir.

Se continuamos a ter a capaciadade para sentirmo-nos bem, então porque razão nos sentimos mal até ao ponto de emergir a infelicidade? Talvez seja, porque temos igualmente a capacidade para criarmos a nossa própria realidade, a nosso favor ou contra nós.

Então sendo assim, o que existe em nós que permite criarmos a nossa própria realidade? É certamente aquilo que nos distingue dos outros seres vivos, a nossa capacidade de pensar, e mais propriamente a nossa capacidade de pensarmos acerca de nós e fazermos avaliações do quão estamos contentes ou tristes com o desenrolar da nossa vida. E, se condicionamos toda a nossa vida baseada num sentimento de tristeza e insatisfação, ou se conseguimos perspetivar a construção de uma realidade mais positiva para além do que sentimos nos momentos difíceis da vida.

Quer dizer que a forma como nós interpretamos o que nos acontece e a forma como contamos a nossa história dos fatos joga um papel preponderante para o noção que temos de estarmos a ser felizes, ou ao invés, infelizes? Claro que sim.

Expliquei aprofundadamente esta questão no artigo: Curar o passado, resignifique os acontecimentos traumáticos numa história capacitadora.
Para quem está a passar por uma fase complicada na vida e a sentir-se infeliz, talvez seja bastante difícil perspetivar que pode ter uma outra noção das coisas, que pode mudar o impacto do significado dos acontecimentos que enfrenta ou enfrentou. Se a avaliação que fez daquilo que tem acontecido na sua vida, ou do que não tem feito, ou ainda do que gostaria de vir a fazer está a contribuir para o seu estado de infelicidade, saiba que é possível mudar o ponto de vista, e fazer uma reavaliação mais capacitadora e que promova melhores sentimentos que o conduzam pouco a pouco rumo à felicidade.

Para conseguir mudar o ponto de vista, é necessário libertar-se do ressentimento que os acontecimentos lhe possam estar a provocar e aceitar os fatos. A aceitação daquilo que nos ultrapassa, que é exterior a nós e está fora do nosso controle é um ponto chave para iniciar o processo de mudança positivo. Assim, como a aceitação dos sentimentos desagradáveis que sentimos é um passo importante para não estarmos constantemente a rejeitá-los. Ao aceitá-los pode conseguir perceber que os sentimentos negativos se justificam, e que inevitavelmente são inerentes a si, expressam-se em si como um sinal de alerta. Se conseguir desapegar-se deles, não se orientar no seu dia-a-dia por esses sentimentos debilitantes, fica numa posição mais vantajosa para não se deixar afetar e, mais importante que isso, fica liberto para promover sentimentos positivos, construtivos e capacitadores que possam promover o estado de felicidade.

TOME A FELICIDADE NAS SUAS MÃOS
Ainda que ao longo do artigo eu tenha vindo a falar que um dos fatores preponderantes para resgatar a sua felicidade seja a forma positiva de processar a informação, evitando cair em erros de raciocínio. E, que o antídoto para não cair nesses erros é a prática dos seis elementos que permitem desenvolver a flexibilidade psicológica. Importa, contudo levar em consideração que você é o único agente promotor da sua própria felicidade. Você é quem pode, pela sua vontade e querer, decidir-se intencionalmente a implementar as estratégias mentais facilitadoras e promotoras de bons sentimentos e atribuir significado ao que o reforço.

Mesmo estando numa situação de humor diminuído e enfrentando dificuldades que limitam a sua esperança de poder ser feliz, pondere contestar a sua avaliação negativa, e tente perceber que está a processar a informação dos fatos de forma a prejudicar-se ainda mais do que as próprias circunstâncias possam estar a contribuir. Mantenha-se firme na sua caminhada, insista, persista e não desista de caminhar rumo à sua felicidade mesmo sentido-se menos bem. Continue até que os bons sentimentos, bem-estar e felicidade floresçam.

Abraço
Fonte: http://www.escolapsicologia.com/como-posso-ser-feliz/

Sem comentários: