sexta-feira, julho 30, 2010

Psicoterapia e Fibromialgia

por
Anita Aparecida Lopes

O nosso cérebro possui a capacidade de registrar o que vemos, ouvimos e sentimos. Assim, nada escapa, nem passa sem ser percebido, ficando armazenado desde as mais simples às experiências mais complexas experimentadas ao longo da vida. Embora se assemelhe a um computador, em sua função de armazenamento de dados, o cérebro transcende as habilidades dos mais sofisticados meios de comunicação gerados pela tecnologia, captando também, as nossas emoções e sentimentos que passam a fazer parte integrante da mente humana, num processo de emancipação da consciência. No processo de libertação e integração do indivíduo, é necessário que este desenvolva a sua sensibilidade, sem a qual ele se fecha diante do mundo e acaba por capta-lo superficialmente.

Ainda, sendo a mente responsável pelas atividades corporais, podemos dizer que há uma relação entre as nossas emoções e o nosso físico. O elo entre o corpo e a emoção é indivisível, uma vez que, todo o ato físico, exceto os puramente mecânicos, tem uma fonte interior de sentimento. A tomada da consciência do próprio corpo significa o acesso ao ser inteiro, posto que o corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas a sua unidade.

A dor física desencadeia uma dor psíquica e vice-versa. Por outro lado, a dor se manifesta de uma maneira diferenciada, tendo em vista o repertório individual que não pode ser negligenciado, numa pesquisa que visa ampliar a compreensão sobre este objeto de estudo, ou seja, a dor. Embora seres da mesma espécie, todos - homens e mulheres - temos características genéticas, psíquicas e sociais diferentes, o que nos torna únicos e exclusivos. O mundo é dinâmico, uma realidade em permanente transformação, que não pode ser considerada como pronta e acabada.

O ser humano nasce num determinado meio geográfico, social e histórico, onde adquire espontaneamente um modo de entender a realidade e de agir sobre ela. Para melhor exemplificar, no momento de sua expressão, a palavra revela-se como o produto da interação viva das forças sociais. O homem vive e aprende em contato com outros homens mediados pelas palavras, que irão lhes informar e formá-los, gerando um circuito de formação e reformulação de nossas consciências. Neste sentido, cada um de nós, possuímos formas originais de expressar os nossos anseios, as nossas necessidades, os nossos sonhos e mais especificamente a dor.

A Fibromialgia é uma síndrome, que propicia uma dor real, capaz de gerar desde um leve incômodo ao indivíduo até uma condição incapacitante, comprometendo sua qualidade de vida, seu desempenho profissional e suas relações interpessoais. Com freqüência, tais circunstâncias impõem limitações que podem gerar o desencadeamento de conflitos emocionais. Cabe aqui, a convicção da fundamental importância de uma investigação mais intensificada acerca do tratamento da Fibromialgia, visando uma eficaz intervenção sobre todos os aspectos desencadeantes desta dor que, embora subjetiva, interfere diretamente na realidade concreta do ser humano.

A Psicoterapia é uma modalidade de tratamento psicológico que favorece uma maior compreensão e elaboração dos sentimentos reprimidos do indivíduo, num processo de integração consigo mesmo, com o outro e com o meio circundante. A transmissão mais harmoniosa e espontânea das expressões internas, fortalece o ego do ser humano, e por conseguinte, ajuda-o no enfrentamento das adversidades enfrentadas no decurso de sua atividade prática e social.

No tratamento com portadores de Fibromialgia, constata-se que, após uma fase inicial de queixas, o paciente passa a relatar "outras dores", por vezes relacionadas com situações vividas na infância. Experiências com violência ou com carência afetiva são relatadas nesse momento da psicoterapia e com freqüência, aspectos ligados a perdas, mortes ou separações interligados a sentimentos e pensamentos não exteriorizados, tais como: medo, insegurança ou raiva que podem estar relacionados a um processo de depressão.

Ao longo do tratamento, pode-se observar uma gradativa capacidade do paciente de correlacionar a dor sentida com determinadas emoções e situações conflituosas experimentadas numa determinada fase da sua vida. Num processo de elaboração e re-elaboração de padrões, conceitos e comportamentos, por meio da psicoterapia, a pessoa amplia a sua capacidade de atuar de uma forma mais ativa, participativa e harmoniosa em seu próprio meio. A utilização mais equilibrada e consciente de sua energia para a solução de seus problemas, facilita o rompimento de determinadas barreiras que são impostas no cotidiano e tal intervenção contribui para o gradativo abandono daquela posição inicial em que existia apenas a sua dor.

Anita Aparecida Lopes
Psicóloga Graduada pelo Inst. Metodista de Ensino Superior
Psicóloga do Centro de Dor - Hospital 9 de Julho
Especialista em Psicoterapia Picodinâmica - Sedes Sapientiae
Especializanda em Psicologia Hospitalar - ICHC-FMUSP

Fonte: http://www.centrodedor.com.br/sm_psicoterapia.php?abrir_menu=1&subitem=saiba_mais

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