Por Miguel Lucas em Psicologia Comportamental
Reviver excessivamente o passado doloroso pode ser catastrófico. Ruminar acerca de um passado negativo, que infligiu dor física e/ou emocional, pode conduzir a pessoa a lamentações insalubres que nada contribuem para o seu bem-estar e felicidade. Se você costuma refletir sobre o seu passado, e este faz disparar sentimentos de raiva, culpa, ressentimento, vergonha, tristeza, certamente esse processo é pouco produtivo, ou até tóxico. Eventualmente, você já se apercebeu que esse retorno ao passado é-lhe prejudicial, mas não consegue evitar. Num estado de ressentimento, aflito, ou por vezes obcecado pelos acontecimentos passados a tendência é para que possa sentir-se estagnado, preso ao passado sem conseguir avançar e progredir em direção a soluções adaptativas para a sua vida.
Além disso, voltar ao passado para reviver e avivar memórias de velhas insatisfações e infortúnios que conduzem a preocupações e pensamentos irreconciliáveis acerca desses mesmos acontecimentos, pode resultar em autocrítica desmedida, lamentações, remorsos e até angústias e amarguras. Usar a sua energia mental para tal finalidade insalubre, pode catapultá-lo para um mar de crenças incapacitatoras expressas em palavras como: deveria, poderia, teria. Neste cenário você pode acabar consumido pelo pesar do passado, constituindo-se como a mais inútil das emoções. Tal como o próprio nome indica: pesar do passado, é como transportar uma âncora amarrada às ações, pensamentos e sentimentos que o impedem de movimentar-se livremente em direção a uma vida próspera.
ENERGIZAR-SE COM A ACEITAÇÃO DO PASSADO
Quando o passado nos deixa marcas profundas, quando nos sentimos condicionados e ancorados no passado, provavelmente está relacionado com adaptações reativas que provaram ser indadequadas. Esses comportamentos e forma de pensar, afetam negativamente os resultados atuais, sobretudo pelo fato de não se aceitar os acontecimentos passados. A Aceitação permite um distanciamento, e o distanciamento pode promover a reestruturação comportamental futura. Ou seja, ao percebermos que não somos o passado, e que a análise que fizemos desses acontecimentos nos tem vindo a prejudicar, ficamos numa posição favorável para ganharmos consciência que podemos seguir em frente. Ficamos cientes que é possível olhar o futuro sem as amarras do passado. Mas como? Como é que é possível não continuar amargurado, ressentido ou com sentimento de impotência?
No exato momento que perceber que o comportamento que está a ter na atualidade prende-se com condicionalismos do passado, efetue algumas perguntas capacitadoras:
O que posso fazer para voltar a ganhar confiança em mim?
O que posso fazer para deixar de ficar rancoroso?
O que posso fazer para voltar a ter confiança em algumas pessoas?
O que posso fazer para recuperar a minha autoestima?
O resultado de não deixar ir o passado, pode roubar-lhe oportunidades para realizar o que ainda pode estar ao seu alcance. Se insatisfações e traumas passados deixaram um vazio na sua vida, agora é o momento perfeito para diligentemente buscar o que possivelmente pode preencher esse vazio. Se, atualmente você se sente extremamente carente devido à ausência de realizações passadas, você pode ter tendência para ser muito menos proativo na busca de novas fontes de amor e apoio que, de forma ideal, você procuraria.
Aceite os acontecimentos e reenergize-se sabendo que pode atuar sem estar preso aos condicionalismos. Não fique mais agarrado ao buraco afetivo provocado pelo seu passado castrador e permita-se a acreditar que consegue fazer coisas que podem contribuir para a sua satisfação de vida.
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REVISIONAR PRODUTIVAMENTE O PASSADO
Revisionar produtivamente o passado difere radicalmente de simplesmente insistir nas memórias traumáticas ou perturbadoras. O processo de reestruturar o passado revisionando-o mentalmente é principalmente sobre construir um novo entendimento de forma a corrigir as deficiências de avaliação dos acontecimentos ocorridos e do autoconceito estabelecido. Trata-se de afirmar a sua informação atual para interpretar novamente as várias coisas que aconteceram com você em tempos passado. Pretende-se corrigir as interpretações equivocadas que contribuíram para a construção de ideias negativas sobre si mesmo. Dado o seu nível de desenvolvimento cognitivo, a sua experiência, crenças e forma de olhar o mundo, você não poderia ter entendido com precisão e de forma assertiva o que os seus olhos e os ouvidos pareciam estar-lhe dizendo. É também provável que, vendo a realidade com o egocentrismo de uma criança, de um adolescente ou jovem adulto você não poderia deixar de atribuir significados negativos para si mesmo tendo experienciado eventos negativos que podem de fato ter tido pouco (ou nada) a ver com você.
Para dar apenas um exemplo, suponha que quando você era jovem testemunhou o doloroso divórcio dos seus pais. E numa das suas batalhas de palavras pouco amistosas, você ouviu o seu nome. Assustado, desanimado e incapaz de resistir a algum tipo de sofrimento emocional, você concluiu a animosidade horrível dos seus pais deve de alguma maneira ser culpa sua e que, inevitavelmente, eles tiveram de seguir caminhos separados, porque você era ruim. Se nenhum dos pais fez esforços para assegurar-lhe que a sua separação nada tinha a ver com você, então, mesmo em adulto você pode ter sentimentos irracionais sobre o quanto contribuiu para o problema de seus pais, ou não ter sido bom o suficiente, talvez até mesmo possa ter desenvolvido sentimentos de vergonha, de culpa e de remorso.
Num cenário como esse, é primordial revisionar o seu passado:
1- Para descobrir exatamente onde esses sentimentos autodestrutivos, e essas autoavaliações e crenças negativos tiveram origem.
2- Para perceber que foram os seus pais que causaram a sua separação e não você.
Este processo pode ser extremamente útil para que você consiga modificar e atualizar os sentimentos negativos que transporta até aos dias de hoje, e que julga que o atormentarão para o resto da sua vida. A ideia de culpa do divórcio dos seus pais, pode agora ser redefinida, atualizando-a à luz da nova informação. Isso permite perceber que o divórcio foi da total responsabilidade deles. Pois foram eles que não conseguiram conciliar as suas diferenças, e a ideia depreciativa que desenvolveu acerca de você mesmo, foi devido à exposição aos conflitos que presenciou.
REDEFINIR O SEU EU
Se você está ciente que desenvolveu um autoconceito negativo, é importante interrogar-se de onde ele provém. Se você fizer isso, provavelmente vai descobrir que qualquer sentimento que possui de não ser bom o suficiente deriva das mensagens erradas que deu a si mesmo no passado. Pouco importa se essas mensagens eram ostensivas ou dissimuladas, intencionais ou acidentais. Se você se sentiu obrigado a aceitar a culpa ou a responsabilidade de determinado acontecimento, acabou por definir-se sobre uma base perniciosa.
Então, se você é duramente autocrítico, pode ser extremamente valioso viajar mentalmente aos acontecimentos passados e, por exemplo, questionar se os seus pais ou familiares eram excessivamente críticos para consigo, ou se eram extremamente rígidos colocando-lhe elevadas expetativas nas suas ações e objetivos. Depois de se tornar totalmente consciente das coisas emocionalmente abusivas que você possa ter experienciado, pode começar a reduzir a autocrítica negativa e parar de denegrir-se. Quando você perceber que não tem que continuar a orientar a sua vida por expetativas injustificadas, pode finalmente libertar-se do seu passado castrador e seguir em frente liberto de amarras autodepreciativas. Você pode parar de alimentar os seus pensamentos de bota abaixo e estabelecer expetativas mais assertivas. Afinal, agora que você tem opção de escolha nas suas autoavaliações, certamente não existem razões plausíveis para validar “aprendizagens” que o impelem a adotar um discurso desanimador e padrões comportamentais depreciativos que no passado lhe foram impostos.
Com um maior conhecimento e consciência, você pode começar a rever as suas crenças negativas e autoconceito negativo, que como criança ou adolescente podem, infelizmente, ter feito todo o sentido. Agora você pode ver essas noções autodepreciativas com mais precisão, e perceber que na atualidade não fazem mais sentido. E pode eventualmente reconhecer que essas autoavaliações negativas têm sido um obstáculo a alguns dos seus objetivos. A sua falta de confiança, medos, baixa autoestima, feridas emocionais, incapacidades, podem desesperadamente necessitar de reavaliação e revisão à luz de todo o conhecimento e experiência que você ganhou desde a infância. Sem fazer esse trabalho de “reparação”, é quase inevitável que o seu comportamento continue a ser orientado por mensagens distorcidas e depreciativas que recebeu sobre si mesmo (ou que outros lhe transmitiram).
REINICIAR A SUA VIDA
É hora de libertar-se das restrições sedimentadas no passado. Assim, por exemplo, se você tem vindo a sabotar as suas chances de sucesso porque cresceu com pais disfuncionais que encontraram literalmente formas de puni-lo sempre que você fez algo melhor do que eles, faz todo o sentido revisitar mentalmente a sua infância para analisar como e quando você construiu a ideia de que o sucesso significava fracasso, de tal forma que, inconscientemente, tem vindo repetidamente a fazer autosabotagem. Se este for o caso, você pode ter a oportunidade atual para perceber que agora é você que é pai de você mesmo (da criança que foi) Que os acontecimentos passados já não podem humilhá-lo mais. E que agora você pode usufruir da sua capacidade para ser bem sucedido.
Outra forma de autosabotagem que remonta ao abuso ou trauma do passado é habitualmente orientar-se por crenças desvantajosas, profecias autorrealizáveis (prognóstico que, ao se tornar uma crença, provoca a sua própria concretização). Se você tem uma tendência a prever o seu próprio fracasso, você precisa questionar-se acerca de qual será a causa que recorrentemente faz disparar a antecipação de resultados negativos. O que no passado deu origem a um programa autodestrutivo? Uma vez que consiga identificar o que o conduziu à criação da sua crença negativa acerca das suas capacidades, você deu o primeiro passo, para deixar de repetir os condicionalismos do passado. Você só continuará a ser afetado negativamente pelos acontecimentos passados, se as autocrenças enraizadas no passado permanecerem sem resposta. Assim que você perceba que tem muito mais recursos hoje do que tinha anteriormente, pode decidir entrar num processo de reestruturar o seu passado.
Dei o exemplo de uma criança que foi oprimida pelos seus pais e que construiu um conjunto de crenças negativas que o conduziu à autodepreciação e autosabotagem. Como expliquei, revisitar o passado com o objetivo de reestruturá-lo é um processo que está ao alcance de todos nós. Mas há várias outras razões que justificam abraçar este processo de revisitar metalmente o passado com o objetivo de libertar-se das amarras pejorativas. E de maneiras diferentes, todos essas razões dizem respeito à libertação do passado e encerramento de capítulos de vida que tanto minam o presente.
Por exemplo, sentimentos de raiva, culpa, vergonha e arrependimento podem todos precisar de ser resolvidos e reconciliados. Uma forma altamente eficaz para alcançar este objetivo é entender o que aconteceu com você, como algo que tinha que acontecer, dado o seu (e dos outros) nível de desenvolvimento / evolução naquele momento. Pode ser um cliché dizer que todos nós fazemos o melhor que podemos com aquilo que temos. Ainda assim, estou convencido de que, tendo tal perspetiva benigna acerca da condição humana não é apenas caridade, mas é também razoável.
Para entender com compaixão as nossas fraquezas coletivas e defesas, bem como os limites da nossa sensibilidade, conhecimento, compreensão e desenvolvimento moral, importa finalmente aceitar as nossas fragilidades comuns de uma forma que nos permite ir além de sentimentos venenosos, ressentimento, ódio ou vingança. Então, se você pode adotar uma posição tão indulgente tanto para si como para aqueles que no passado lhe causaram dor, certamente pode começar o processo saudável de abandonar mágoas e deceções o mais cedo possível.
Olhar para o seu passado de forma diferente, revisitando-o, permite que você consiga finalmente aceitá-lo, fazer as pazes com ele e seguir em frente. Aceitando plenamente o que nunca pode ser alterado ajuda a exonerar-se (e todos os outros) de tudo o que aconteceu de errado, numa altura em que você estava crescendo. Quaisquer que sejam as ações impulsivas, comportamentos imprudentes, ou decisões precipitadas feitas naquela época, agora pode ser atribuído principalmente à imaturidade, desconhecimento ou falta de experiência.
Tenho vindo a trabalhar com algumas pessoas que me procuram no sentido de ajudá-las a recuperar das feridas emocionais que estão ligadas a acontecimentos passados. Utilizo a Terapia da Perspetiva do Tempo desenvolvida pelo Dr. Philip Zimbardo que permite a reestruturação de acontecimentos traumáticos.
Se apesar de todos os seus esforços continua a sofrer com as angústias do seu passado, pondere adquirir a minha Palestra em Vídeo: Superar o Passado e Promover o Futuro. Você Irá receber ensinamentos de como dar um novo significado aos acontecimentos passados e como gerir as emoções negativas que o atormentam no presente. Irá aprender estratégias e técnicas que o conduzirão ao processo que permitirá fazer as pazes com o seu passado. Irá saber como desprender-se das amarras, remorsos ou sentimentos de culpa, e seguir em frente sem condicionalismos negativos.
http://www.escolapsicologia.com/passado-nao-fique-preso-nele-reestruture-o/
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