Inevitavelmente
quando passamos por acontecimentos que classificamos como negativos, é
natural que paralelamente também sejamos invadidos por pensamentos
negativos, pelo menos por um curto período. No entanto, ainda que o
abalo, perda ou incómodo da situação seja real, muitas das vezes o
sofrimento emocional está muito mais relacionado como a pessoa pensa
acerca do que lhe aconteceu, do que propriamente com a natureza do
acontecimento. Alguns estudos como os realizados na University of Liverpool
que relacionam o risco de problemas psicológicos com acontecimentos de
vida, indicam-nos que não é exatamente o que acontece conosco que mais
importa, mas a forma como pensamos sobre isso que influencia o nosso
bem-estar psicológico.
Pensamentos negativos e ruminação arruinam a vida
É um fato, que a predisposição genética
de uma pessoa e as suas circunstâncias de vida e acontecimentos,
contribuem em grande parte para os problemas psicológicos
(como os transtornos de ansiedade e depressão) ou sofrimento emocional.
No entanto, a forma como a pessoa pensa sobre os acontecimentos e a
forma como lida com isso é igualmente um indicador do nível de ansiedade
e stress que sente. Em muitos dos artigos que escrevo, afirmo que a
autorreflexão e autoconsciência jogam um papel importante para uma vida
satisfatória e feliz. Reforço isso, dizendo que a autorreflexão importa
estar orientada sempre de forma construtiva, compassiva e assertiva. Se
este processo não estiver assegurado, a autorreflexão pode encaminhar-se
para a sua versão prejudicial, que é a ruminação.
Quando
perante determinados acontecimentos de natureza dolorosa ou
angustiante, a pessoa começa a ruminar demasiado, acionando a
autocrítica negativa, e consequentemente entrando numa cascata de
pensamentos negativos, fica à mercê de um raciocino incapacitante que
pode piorar ainda mais a situação em que se encontra. A voz interior
crítica funciona como a voz de um inimigo. É um diálogo interno autocrítico
que impulsiona a ruminação, autoculpa e auto-aversão. É um diálogo
interno autocrítico que materializa os pensamentos negativos. Que coloca
em dúvida as capacidades e habilidades da pessoa, que envergonha, que
bota abaixo, que amedronta, e incentiva a comportamentos desviantes e
destrutivos. Esses pensamentos negativos que chegam à pessoa através da
voz silenciosa podem encorajar à desistência dos objetivos e sonhos. A
voz crítica subjuga, mantendo a pessoa aparentemente segura dentro de
uma concha miserável, ainda que familiar.
Para aprofundar o assunto, leia: Pensamentos intrusivos, o que são e como superá-los?
Cada um de nós possui essa voz, de uma forma ou de outra. Talvez a sua possa ser mais focada na sua carreira. “Não vás atrás de promoções, aceita onde estás, nunca serás capaz de chegar mais longe.” Talvez essa voz fale sobre a sua vida amorosa. “Não te preocupes com o namoro. É inútil. Ninguém irá amar-te. Estás condenado a ficar sozinho.”
Quando os pensamentos negativos entram num processo de ruminação, a voz
autocrítica vai endurecendo e enraizando-se, construindo uma forma
negativa de olhar a você mesmo e ao mundo. Como resultado, você trava
uma batalha entre os momentos em que gostaria de ver-se livre da sua
negatividade e os momentos em que é dominado pela descrença dos seus
pensamentos negativos. O seu verdadeiro eu luta (ingloriamente) contra a
sua voz interior crítica.
A boa
notícia é que você pode sair vencedor desta suposta luta. Digo suposta
luta, porque quando você aprender algumas estratégias para lidar com os
seus pensamentos negativos e diálogo interno crítico, irá perceber que
na verdade não necessita lutar. Precisa apenas aceitar e reorientar a
sua atenção e esforços para criar pensamentos positivos.
Você pode não conseguir mudar o que lhe aconteceu ou as suas
experiências de vida, mas é possível ajudar a si mesmo a mudar a sua
maneira de pensar e aprender estratégias construtivas de enfrentamento
que podem reduzir os níveis de stress e mal-estar.
Tolerância Zero
Você pode iniciar este processo através da adoção de uma política de tolerância zero
para as suas “vozes críticas” ou pensamentos autodestrutivos. O que
acontece, é que o padrão de pensamento negativo que suporta a voz
crítica, na grande maioria das vezes, foi sendo profundamente enraizado
desde a infância. Se você se identifica com este processo, certamente
sente dificuldade em distinguir as vozes interiores críticas das suas
observações reais ou senso de si mesmo. A “voz” pode ser enganosa e
afetar o seu humor de maneiras que parecem sutis. Os pensamentos
negativos conjuntamente com o seu diálogo interno crítico podem
tornar-se castradores. Por exemplo, se você é uma pessoa tímida, pode
lembrá-lo: “Não vás à festa, só te irás sentir estranho e deslocado“. Muitas vezes, ouvimos estes pensamentos negativos sem realmente estarmos conscientes de que estamos a tê-los.
Assim, o primeiro passo para
enfraquecer e extinguir a sua voz crítica interior, é reconhecer quando
ela se manifesta. Quando você começa a atacar a si mesmo? O que
desencadeia? Faz com que você evite tomar ações? Trata-se de ir a um
evento social? Falar em uma reunião? Combinar um encontro com alguém?
Assim que você comece a tomar consciência dos cenários que desencadeiam a
negatividade e as vozes que a suportam, você pode identificar padrões
nos seus pensamentos e tornar-se mais consciente deles. Você pode
realmente reconhecer quando está atacando ou prejudicando a si mesmo,
ficando assim melhor equipado para resistir e não dar “ouvidos” a esses
pensamentos negativos.
O segundo passo
é o mais simples, mas pode ser o mais desafiador. Assim que você
perceber que uma voz começa a ecoar na sua mente, pare com isso! Pare
com essa maneira de pensar. Tenha tolerância zero com qualquer coisa que
esse inimigo interno lhe está dizendo. Por exemplo, uma estratégia no
tratamento de transtorno obsessivo-compulsivo envolve a pessoa dizer a
si mesmo que o cérebro está enviando mensagens enganosas para ela.
Seguindo este exemplo, quando você começar a repetir um
pensamento negativo pode lembrar-se, “Não sou eu, é a minha voz
crítica. Esses pensamentos não são a minha consciência a orientar-me,
eles são a minha voz interna construída no passado, tentando orientar-me
para afastar-me dos meus interesses e objetivos“
A
voz crítica interna pode desenvolver-se de muitas formas, um exemplo
disso é quando alguém começa a olhar-se ao espelho e procura algo que
não lhe agrada. Olhando fixamente no espelho, começa a catalogar
pequenas imperfeições na sua aparência. Começa a ter pensamentos como “Meus braços são muito magros” ou “Ugh, eu odeio as minhas coxas.” Muito em breve, os pensamentos escalam para. “És tão feio. Não trabalhas o suficiente. Nunca te irão achar atraente. És mesmo nojento!”
Com esta crítica enraizada a pessoa tem tendência para diminuir o seu
humor, deixar de cuidar-se, de socializar, e passa a sentir-se deprimida
e desmoralizada. Como resultado a pessoa sente-se menos confiante
consigo mesmo e na sua vida em geral.
Cuidado com a voz crítica “amistosa”
Esta é a razão pela qual você precisa
implementar a política de tolerância zero ao primeiro sinal de que a sua
negatividade e a sua voz critica interna ficaram ao volante das suas
ações. Não se lamente sobre o seu estado de negatividade ou sobre os
seus pensamentos negativos. Não há nada para refletir sobre, nenhuma
declaração a considerar, do ponto de vista de poderem ser válidos. Tudo
isso é apenas a ruminação em ação. Uma ruminação enraizada num padrão
mental de negatividade. Nada tem a ver com o seu momento atual.
Desconfie dos pensamentos de evitamento que soam amigáveis ou sedutores.
“Está tudo bem, é melhor ficares sozinho. Não precisas de ninguém.” Tenha cuidado com as vozes que soam paranóicas em relação aos outros e aos benefícios do isolamento. “Ninguém vê o teu potencial. Eles não gostam de ti. Eles apenas têm ciúmes de ti.“
Embora
esses processos de pensamento possam parecer simpáticos ou até mesmo de
cortesia, eles fazem com que você se sinta vazio e muitas vezes indo na
direção oposta dos seus objetivos. Além disso, uma vez que você tome
ações sobre esses pensamentos que identificou como prejudiciais, o seu
velho mecanismo de negatividade irá criar mais pensamentos críticos para
se certificar que ganha essa batalha. “Aí estás tu de novo, sempre sozinho. És um perdedor.“
Quando
você se encontrar a cismar, e perceba que os seus pensamentos se
tornaram negativos, importa parar de ruminar neles, não seguir as suas
indicações e tomar medidas suportadas pela positividade.
Ao aplicar a tolerância zero você está impedindo que essas vozes
influenciem as suas ações. Se elas estão dizendo para você ficar
sozinho, convide um amigo para café. Se elas estão repreendendo o seu
sucesso profissional, solicite uma promoção. Tome ações que possam ir ao
encontro daquilo que você pretende e não daquilo que você teme. Oriente
os seus pensamentos pela sua consciência, ao invés de ser pelos seus pensamentos negativos.
Mantenha-se firme nas ações positivas
Chamo a atenção, que no inicio, quando
você começar a praticar a tolerância zero com os seus pensamentos
negativos e voz crítica, a sua negatividade vai reagir em força, criando
ainda mais pensamentos negativos. Não se deixe abater com isso, pois
será temporário. Quanto mais tempo você perseverar nas suas ações, e
deixar de seguir os caminhos da negatividade, os seus pensamentos
negativos irão enfraquecer. É difícil de atacar a si mesmo por ser
preguiçoso quando você se exercita regularmente, ou prejudicar os seus
objetivos quando você os está perseguindo ativamente. Esta é a forma de
você vencer sobre os seus pensamentos negativos: Agir, e os resultados
das suas ações irão confrontar positivamente os seus pensamentos
negativos.
Ao iniciar a tolerância
zero, você está a expulsar da sua cabeça o seu “companheiro de quarto
detestável”. A maneira de fazer isso é tornar-se consciente e não seguir
os pensamentos negativos, cultivando a autocompaixão e não agir de
acordo com as diretrizes da sua voz crítica, não permitindo que esse
inimigo interno controle a sua vida.
http://www.escolapsicologia.com/os-pensamentos-negativos-estao-arruinando-a-sua-vida-saiba-o-que-fazer/
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