"Quem sou Eu?
Achei de bom tom começar por mim. E faço-o, não pelo “eu” ser a primeira pessoa na conjugação de qualquer verbo, mas por sentir que na maioria das pessoas que conheço e com quem me costumo relacionar mora uma resistência enorme quando têm de falar bem de si mesmas. Parece que vivem com medo de afirmar e partilhar o mar de bondade e mérito que existe dentro delas.
E porquê?
Porque somos educados a olhar para os outros em primeira instância, porque nos dizem, desde pequenos, que somos maus a fazer isto ou que fizemos mal em ter dito aquilo, porque somos castigados demasiadas vezes e raramente carregados em ombros. A sociedade onde vivemos é de poucos elogios e o reconhecimento é, quase sempre, o último recurso. Ora se esta é a nossa forma de agir para com os outros, como seria se andássemos todos a falar bem de nós próprios e a enaltecer, constantemente, as nossas ações e as nossas convicções? Na minha opinião, seria fantástico! Emoções como a frustração, a desilusão a raiva e a culpa, desapareceriam rapidamente do mapa de muita gente. O autoelogio é, assim, uma ferramenta poderosíssima que temos ao nosso dispor e que deve conquistar o espaço da vergonha e da falsa modéstia. O que, dentro de poucas linhas, vais ler sobre mim representará um enorme desafio para ti. Irás julgar-me? Ou ficarás com uma vontade incontrolável de escrever algo semelhante a teu respeito? Cada um de nós é um hino, eu acredito nisso, por isso perdoem-me os mais conservadores e os preconceituosos, mas eu sou merecedor das próximas palavras.
Sou um pensador, um autodidata.
Alguém que não precisou de um curso superior, mestrado ou doutoramento nas áreas da medicina, psicologia ou sociologia para arriscar falar e escrever sobre a saúde, as pessoas, as relações e o mundo. Respeito quem os tem e admiro quem os alcançou com paixão, ainda assim, sempre privilegiei o cultivo da experiência e nunca a troco pelo que leio nos livros e leio muitos, muitos bons, tal como sempre preferi arriscar em detrimento de ficar sentado no sofá a ouvir alguém contar uma história que eu gostava de viver.
A minha filosofia de vida é a meritocracia.
Acredito no mérito e num sistema que premeie os merecedores. Numa ideologia que enfatize o talento, a competência, os valores e a qualidade das nossas escolhas em detrimento das classes sociais, etnias ou género.
Bem sei que o sufixo “cracia” sugere um sistema de governo, mas eu gosto mesmo é de levar isto para o lado pessoal e para a intimidade de cada um. O governo só pode comandar o destino das massas, nunca o do ser individual, pois uma nação é um conjunto de gente muito menos poderosa e mais passiva que uma qualquer pessoa por si só, assim ela o queira.
O meu mundo são as escolhas que, livremente, faço e nunca as que deliberam por mim.
Acredito que eu sou o único responsável pelo estado em que me encontro, que esse estado é o resultado da soma das minhas escolhas e que, por isso, mereço estar como estou e onde estou. Quando estou triste, frustrado ou desiludido, continuo a ser a única e principal causa da minha agonia, mesmo que tudo o que me tenha acontecido não tenha começado em mim. Eu sou responsável por conseguir aceitar, perdoar e amar e é este poder, que tomo como garantido em mim e que uso frequentemente na minha vida, que me faz sentir merecedor de tudo o que sou, de tudo o que conquisto e de tudo o que tenho.
Fiz de mim um homem do “Agora”, independente e curioso. Gosto de estar atento ao curso que cada um dá à sua vida, opinar, e colocar-me nas suas posições de forma a entender até onde lutam e a partir de onde se começam a vitimar. Sou, particularmente, interessado no estudo do comportamento humano, padrões, máscaras e histórias. Sou um homem de sonhos, de sonhos realizados. Objectivo e consciente, não vejo ninguém acima nem ninguém abaixo de mim. Vivo com a certeza maior de que temos todos o mesmo poder e que ninguém vive num estatuto inferior a não ser que assim se considere. Sou de perdoar facilmente e gosto de me rir com o que já me magoou. Sou humorado, de abraço fácil e muito comunicativo. Entrego-me com relativa facilidade a desconhecidos e tenho-me dado bem com isso. Sou um homem de verdade, acima de tudo para comigo. Respeito o meu passado e tenho-o lacrado em mim, pois ninguém, a não ser eu, o entenderia na perfeição. O meu presente reflete uma sucessão de boas escolhas e é, verdadeiramente, partilhado com as pessoas com as quais me identifico. Ao meu futuro não dedico muito tempo, gosto apenas de pensar que terei tempo para ser e fazer tudo o que quero ser e quero dar. Sou plenamente consciente dos meus valores e das minhas virtudes, dos aspectos a melhorar ( aquilo a que muitos chamam defeitos ) e da minha legítima inconsciência em relação a outras tantas coisas, que só um conjunto de novas experiências me poderá trazer mais e melhor entendimento.
Em suma, sou um homem feliz!"
in "Arrisca-te a Viver", 2012
Fonte: http://gustavosantosescritor.blogspot.pt/2012/10/eu-sei-quem-sou-e-tu-sabes-quem-es.html
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