E quando a culpa da nossa inércia não são os outros? Bom, sempre temos o tempo, ou a falta dele, para culpar. Enfim, muitos de nós usam tudo o que estiver ao seu alcance como justificação para se poderem continuar a lamentar com a ausência de minutos para cuidarem de si mesmos e com o facto de não conseguirem fazer as coisas que, realmente, gostavam de fazer. Costumam até dizer que a vida deles é uma miséria porque não têm tempo para nada.
Penso que é importante desmistificar isto.
É preciso virar ao contrário esta ideia de que o tempo nos controla. Somos nós que o controlamos a ele. Ele é estático, nós somos flexíveis. Uma das coisas que aprendemos muito antes de chegar à escola, é saber que todos os dias têm vinte e quatro horas, certo? Portanto, confirmas que, desde pequeno, tens a noção de que tudo o que se passa no teu dia tem de estar enquadrado nesse mesmo período de tempo? Sim? Fantástico. É uma verdade que, enquanto adolescentes e jovens, demitidos de responsabilidades, essas duas dúzias de horas chegam e sobram, na medida em que sabemos que no dia seguinte haverão mais vinte e quatro para a farra, por outro lado, e olhando agora para a fase adulta, sucede um fenómeno estranho à maioria das pessoas, e talvez tu te incluas nisto, que é, a mesma medida de tempo começar a deixar de ser suficiente para a realidade delas. Pior, não chega, sequer, para consumar todas as obrigações que somaram às suas vidas, portanto, onde é que se encaixa o voucher das coisas que elas, verdadeiramente, desejam fazer no seu dia-a-dia como viver as suas paixões ou investir algum tempo nelas próprias? Em lado nenhum, aliás, já nem pensam nisto. Estas vidas só podem ser infelizes e se tu vives, diariamente, nesta condição, não tens como não me dar razão. O que acontece, a todos aqueles que vivem esta estória, é um acumular, muitas das vezes inconsciente, de deveres e obrigações que, em catadupa, por necessidade, falsa na maioria das vezes, por orgulho ou, ainda, por medo de confiar ou delegar algo em alguém, acabam por ir destruindo o encanto e o sorriso da pessoa. Ora, isto é extremamente perigoso porque como andas anestesiado pelas preocupações e desligado do que realmente te faria bem, só dás pelo que te andas a fazer passado muito tempo e a manifestação dessa auto-sabotagem pode materializar-se numa profunda convulsão interior ou num pico de dor que sentes no corpo e te pode, verdadeiramente, assustar. Aí, se ainda estiveres lúcido, perceberás que os teus desejos foram tão comprimidos no meio da confusão e durante tantos anos, que acabaram por explodir, desaparecer, e dar lugar a mais um conjunto de obrigações. Em muitos dos casos, as pessoas julgam já não haver forma de reparar tanta negligência e desistem, escolhem continuar a carregar a cruz, mas é falso. Há sempre, e no imediato, solução para tudo. A questão é, o que é que tu escolhes fazer no teu dia? Em vinte e quatro horas, é possível agendar obrigações, deveres e desejos. Em vinte e quatro horas, tu podes escolher fazer algo pelo qual és apaixonado, um hobbie, por exemplo, ainda que para isso acontecer tenhas de saber confiar nos outros e delegar-lhes funções que, até agora, eram apenas tuas, largar o teu orgulho em prole da tua saúde emocional e física e até deixar de ser tão rígido contigo, com os horários que estipulaste para teres de ir para a cama, levar e buscar a criança à escola, fazer o jantar, organizar o dia seguinte, arrumar a casa, etc.
Parece impossível?
Não é. O que acontece é que como já não o fazes há muito tempo, deixaste de acreditar que é exequível juntar ao tempo que já não tens, algo que te dê prazer fazer. Sim, é possível! Sugiro, então, que, numa primeira fase, juntes tarefas, um desejo com um dever. Por exemplo, vai correr ou caminhar e, enquanto isso, faz o mapa mental do teu próprio dia ou do teu dia seguinte, ouve música enquanto arrumas a casa, não faças o jantar, manda vir e investe esse tempo num banho relaxante, nuns minutos de sexo ou afeto, põe a criança a dormir a vai até à varanda, nunca sabes o que a natureza te reserva. E sim, abdica de um par de horas de sono e, nesse mesmo tempo, faz aquilo que mais te apetece fazer. Verás que o tempo que passaste na cama, apesar de menor, rendeu muito mais e foi muito mais tranquilo. Porquê? Porque o trocaste pela paixão. Isso vai influenciar o teu dia seguinte, a tua performance no trabalho, a tua entrega nas relações e, aos poucos, o sabor do tempo que dedicas a ti mesmo vai ganhando o seu espaço e tomarás, então, a consciência de que já não podes continuar a viver sem ele nem sem ti.
Na tua vida, tem de haver sempre espaço e tempo para ti e o tempo não passa de um ponteiro no relógio. Fundamental, é o que tu escolhes fazer enquanto ele anda às voltas.
Fonte: http://gustavosantosescritor.blogspot.pt/2013/01/da-te-tempo.html
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