quarta-feira, setembro 14, 2011

Rompendo o casulo





O sábio Jonas PahNu estava tranqüilo, lendo um pouco. De repente:– Não é possível... Tudo está contra mim.
 Até parece que “só tem eu no mundo” para as coisas darem erradas! esbravejou Daniel, entrando repentinamente na sala.

– Do que você está falando, meu garoto? – perguntou Jonas.– Nada em especial, mestre. Mas ultimamente, para mim, tudo parece ser mais difícil. Tudo o que vou fazer dá um trabalho enorme, complica-se tanto, que tenho a sensação de estar sendo perseguido pelas dificuldades da vida. Para meus amigos, tudo acontece de um jeito tão mais fácil!..
.– Você não gosta de dificuldades, não é mesmo?– 
Não gosto. Acho que tudo poderia ser mais fácil. Acho que a gente não precisaria passar por tanta encrenca para conseguir algo.– 
Ora, Daniel... Você tem certeza de que é isso mesmo que gostaria de viver? Uma vida insossa, sem as emoções de vencer as dificuldades?– 
Mestre, apenas acho que talvez a vida pudesse ser um pouco mais simples. Para que tanta dificuldade, afinal? Que sentido tem isso?Jonas levantou de sua cadeira predileta, apanhou o chapéu de palha de que tanto gostava, e foi em direção à porta. Daniel entendeu, de imediato, que ele queria mostrar-lhe algo. Deu meia volta e saiu apressado atrás do seu mestre.Caminharam em silêncio através da relva, por pouco mais de dez minutos, até chegarem a um aglomerado de arbustos de folhas largas. Eram amoreiras.– 
Venha – disse Jonas. Quero que veja algo. E caminhou por debaixo dos arbustos, conduzindo Daniel.– Olhe para isto... Você sabe o que são?– 
São casulos. – respondeu Daniel.–
 Sim... E amanhã serão borboletas. – completou Jonas. Estão na última fase de sua transformação. Agora, olhe para os orifícios nesses casulos. É por onde sairão as borboletas. Você nota alguma coisa?Daniel observou com cuidado e finalmente respondeu, apontando para um dos casulos: – 
Este casulo tem o orifício bem maior do que os demais. Por que será?–
 Bem observado, garoto. Provavelmente deve ter sido roído por alguma outra lagarta, ou algum pássaro em busca de comida. Mas o que interessa não é saber o porque desse orifício ser maior do que os dos outros casulos. O que realmente importa saber dessa história vai ter de ficar para depois. Vamos para casa e voltaremos aqui amanhã, após o almoço. – concluiu Jonas.Seguiram de volta, e não tocaram mais no assunto. Daniel, mesmo curioso, sabia que não adiantaria perguntar nada mais ao mestre, antes da hora marcada por ele.No dia seguinte, por volta da duas horas da tarde, estavam de volta ao local dos casulos. Sentaram-se e observaram as borboletas, uma a uma, deixando os casulos, estirando lentamente suas asas, que tomavam forma e cores gradativamente, e depois as secando ao sol, para finalmente levantarem vôo.No final do dia, todas as borboletas haviam partido e abandonado seus casulos. Exceto uma: aquela que tinha no casulo uma abertura muito maior do que as outras. Ela não conseguira voar. Saíra de seu casulo, porém permanecia no chão, com o corpo inchado e as asas atrofiadas, girando em círculos. E jamais chegaria a voar.Observando aquilo, Daniel não se conteve e perguntou: –
 Mestre! O que houve com ela?E Jonas PahNu pacientemente explicou:–
 O esforço que a borboleta faz para sair do casulo por aquele pequeno orifício é o recurso que a natureza usa para empurrar os líquidos de seu corpo para dentro de suas asas. Desse modo, as asas são irrigadas, expandem-se e tomam forma, e ganham leveza e força para voar. Portanto, é a partir da superação da dificuldade de romper o casulo, de passar por aquele pequeno orifício, que se define o esplendor da borboleta.Aquele casulo que tinha o orifício bem maior que os demais, o que aparentemente facilitaria o trabalho da borboleta, acabou por incapacitá-la de ter toda a sua natureza desenvolvida.As lutas, as dificuldades, são necessárias para o nosso crescimento. 
Se Deus nos permitisse passar pela vida sem nenhum obstáculo, jamais desenvolveríamos todo o nosso potencial. Não seríamos fortes o bastante e não poderíamos voar, tal qual aconteceu com a borboleta que não precisou lutar para sair do casulo.


 Gilberto Cabeggi 

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