Quem ou o que são os guias espirituais? Eles nos controlam? Nos aconselham? Nos protegem? Devemos-lhes obediência? São mestres que nos acenam do além? São Deusas e Deuses? Mortais ou imortais? Decidem nossas vidas? Serão apenas nosso eu interior se manifestando livre das amarras do superego?
Muita mitificação já foi feita, nas mais diversas culturas e religiões, gerando, por sua vez, muitos mal entendidos que precisam ser esclarecidos acerca da natureza e importância dos guias espirituais.
Em primeiro lugar, pedimos ao leitor que aceite nossa omissão acerca da natureza de diversas entidades que costumam ser confundidas com guias espirituais sem sê-lo, o que exigiria um amplo tratado que não caberia aqui, bem como solicitamos ignorar o significado do termo como guru ou líder espiritual, que não é objeto de nossa análise. Se aceitar, podemos partir da observação de que diversas e dispersas culturas mencionam a existência de entidades que espreitam o desenrolar de nossas vidas particulares, nelas interferindo ocasionalmente, muitas vezes de forma sub-reptícia, porém, quando o fazem, geralmente parecem alterar nosso destino ou efetivamente abrem para nós uma nova compreensão da realidade.
Cristãos se referem a anjos da guarda; umbandistas, candomblecistas e quimbandistas se referem tanto a orixás quanto a espíritos com um perfil definido (preto-velho, pomba-gira, malandro entre diversos outros) e até mesmo entre os nativos da remotíssima Ilha de Páscoa, isolada no meio do Oceano Pacífico a milhares de quilômetros tanto da América do Sul quanto das ilhas polinésias, acredita-se na existência do que chamam de aku-akus, que corresponde perfeitamente aos anjos da guarda cristãos e espíritos das religiões de origem africana.
Estes espíritos, anjos da guarda, aku akus e muitas outras interpretações do mesmo tipo de entidade, agem sempre de forma semelhante: sussurram conselhos, defendem em situações de perigo, abrem novos caminhos, consolam, nos dão lições, enfim, cuidam de nós e nos acompanham ao longo de nossa caminhada terrena. Noutros momentos, pedem-nos favores, desde ações que temos que empreender até bens que precisamos lhes dedicar (velas, comidas, bebidas, objetos sacros, etc...)
Em nosso entendimento teórico, corroborado pela prática da bruxaria no que concerne ao contato com os guias espirituais, o entendimento dos xamãs e dos espíritas kardecistas explica com maior clareza a natureza dos guias espirituais. Os xamãs consideram tais entidades como os espíritos de seus ancestrais (tanto antepassados quanto xamãs falecidos), e os espíritas, como espíritos de pessoas que desencarnaram e que nos acompanham. Numa e noutra crença, estes guias espirituais nada mais seriam que pessoas, como eu e você, que um dia viveram no plano físico, mas que depois de mortos receberam como missão cuidar do desenvolvimento espiritual de determinada pessoa viva.
De nossa parte, observamos que muitas almas se cruzam repetidas vezes em sucessivas vidas, de forma que as famílias e os grupos de tradição costumam guardar uma certa constância. Sendo assim, embora não haja a obrigatoriedade de os guias espirituais serem antepassados de sangue ou de tradição, é natural que a maioria deles o seja.
O importante a salientar é que se trata apenas de espíritos desencarnados, espíritos que nos olham a partir de um plano diferente do material e que zelam pelo nosso desenvolvimento espiritual, mas ainda assim, tão falíveis e ignorantes ou iluminados quanto nós mesmos. Diz a prática que os guias, por mais iluminados e sábios que sejam, ainda que zelando pelo desenvolvimento espiritual de alguém e buscando o cumprimento de seu destino, não podem anular o livre arbítrio, assim como uma mãe não pode evitar que seu filho deixe de tomar decisões erradas. Neste sentido, podemos intimar nossos guias espirituais a não interferirem nas experiências e conflitos para os quais nos achamos prontos. É preciso não mais superestimar os guias espirituais, considerá-los como auxiliares, não como semi-deuses ou grandes mestres, e entender que, ocasionalmente, podem ser espíritos de grau de evolução inferior ao do próprio encarnado, que podem eventualmente nos aconselhar erradamente ou usar de sua função de guia em proveito próprio, deleitando-se através de nós de prazeres aos quais tiveram que renunciar ao deixarem o plano físico. Devemos ainda compreender que, mesmo espíritos mais elevados, com freqüência são superprotetores, bloqueando nossos caminhos no intuito de nos protegerem, mas, na prática, limitando nossas experiências, destruindo preciosas oportunidades de aprendizado. É fundamental, sobretudo, interpretar nosso destino e tomar as rédeas de nossas vidas, assumindo os riscos até onde avaliemos ser prudente, contando com nossos guias espirituais como conselheiros e companheiros, jamais como nossos mestres e senhores.
Fonte: desconhecida
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