quinta-feira, abril 24, 2008

Do Xamanismo

por Antoine Yan Monory (1)


"Toda forma, todo signo, não é senão a expressão exterior de uma idéia,

de uma intenção procedente do Invisível Universal"

(de Mario Mercier, um xamã francês de grande conhecimento)



O Xamanismo... o que é mesmo?...

Na verdade, conforme nós pudemos nos encontrar com esta noção ultimamente(2), o Xamanismo engloba qualquer ritual que nos liga com as Forças da Terra ou com o mundo invisível e sobrenatural, ou qualquer ato de religação indo nesta direção. Ele se funda na proposta e no fato de que nós somos "Um" com a Terra e de que estamos em constante interação com Ela.

Neste sentido, o Xamanismo se propõe a trabalhar com esta energia, da Terra, e daí com os Elementos, os Elementais, e o mundo dos Espíritos e das Energias de modo geral.

Assim também o Xamanismo é a sua intuição, a sua sabedoria interna. É o pensamento e a percepção de que tudo o que existe na Natureza deve ser compreendido, podendo ser trabalhado, e de que podemos interagir e utilizar todo este potencial de Forças, Seres e amigos do invisível.

Podemos ver que esta noção engloba muita coisa, e de que muito das correntes e técnicas da "Nova Era", das Medicinas Energéticas, etc., são de caráter xamânico de alguma forma, de que os umbandistas e "magos" de muitas espécies podem ser considerados Xamãs!...

Podemos citar grandes e santos Xamãs como por exemplo São Francisco, que conversava com o Sol, com a Lua e as Estrelas, com o vento, o fogo e todos os animais, considerando todos como irmãos, filhos do mesmo Pai Criador! Podemos até, quem sabe, considerar Jesus como Xamã, o "Xamã dos Xamãs de Luz", a um nível ampliado para todo Universo! Enfim...

Igualmente, o Xamã, ou "Mago do Natural", vê, sente e se relaciona com a Natureza e com o mundo como o faria uma criança antes de ela ser condicionada pelos adultos. E é assim que todos nós deveríamos nos colocar frente à espiritualidade, com pureza, sem cristalizações nem fixações em "fórmulas", "receitas" ou "dogmas", mas vivendo esta grande aventura como as próprias crianças, com muita criatividade e esperança.

Mas o fato é que, por outro lado, existem trabalhos e linhas consideradas xamânicas, bem definidas e delineadas, provindas e pertencendo às culturas dos povos nativos, sendo que a definição oficial do Xamanismo a define como sendo a "religião de alguns povos do norte da Ásia que acreditam na manipulação dos espíritos bons ou maus pelos Xamãs..."

Assim, se relaciona muito com a cultura dos Esquimós, e muito com a dos Índios norte-americanos, os quais trabalham por exemplo com os "Animais de poder", sendo que cada um tem os seus próprios Animais Mestres internos.

Se trabalha aqui muito com os quatro elementos (o quatro sendo nesse contexto um número sagrado), com as quatro estações e com as quatro direções cardeais. Também se lida com o masculino e o feminino, o Sol e a Lua, e todas as energias primordiais da criação.

No mundo indígena primitivo os Xamãs são os curadores de maior poder, aqueles que sabem lidar com as doenças do espírito e os feitiços. Porque também tem os Xamãs Negros, os bruxos, que usam os poderes sobrenaturais para fazer o mal. Sendo que igualmente muitos fazem tanto o bem como o mal, e tem as oportunidades em que eles se confrontam, em combates mágicos aonde vence aquele que tem maior poder, podendo até ganhar para ele os dons mágicos dos seus inimigos e se tornar mais poderoso ainda.

Hoje em dia os Xamãs podem ser também músicos, terapeutas, e uns até trabalham com a Neurolingüística, e atuam com as pessoas do mundo oferecendo vivências do ramo.

Na verdade, estamos no tempo dos Xamãs Brancos (da Magia Branca), dos Xamãs de Luz, dos "Xamãs Holísticos", comprometidos com o bem e a elevação espiritual da humanidade, e que integram os diversos conhecimentos que podem ter para agir nos diferentes planos de existência.

Existe até hoje em dia um pouco de fenômeno de moda com o Xamanismo, como muitas vezes se dá quando aparece algo de novo e insólito na nossa sociedade, mas isto não tira o seu valor, embora possam eventualmente existir por aí trabalhos com pouco fundamento e com finalidades mais comerciais.

Existem os rituais do Sol, da Lua Cheia, as Danças Sagradas, e toda uma gama de conhecimentos ancestrais e rituais lindos e profundos de interação com as forças naturais.



"No curso de suas viagens através das Regiões Cósmicas, os Xamãs aprendem com os habitantes do Universo quantidades de informações relativas à Criação do mundo, à origem das coisas e dos seres, à sua própria origem, e ao tratamento de certas doenças, notadamente aquelas relacionadas com a perda das instâncias vitais. Estes habitantes, assim como as 'mães' dos vegetais e dos animais, são suscetíveis de se tornar auxiliares e/ou 'veículos' para os Xamãs, 'veículos' por terem alguns o poder de levar o Xamã nestas próprias Zonas Cósmicas" - Jean Pierre Chaumeil(3)



A prática do Xamanismo é, em muitos casos, mas nem sempre, associada ao uso de "Plantas de Poder" e/ou plantas alucinógenas que permitem ultrapassar os limites normais da percepção, e assim poder adquirir o conhecimento do mundo dos Espíritos e dos Elementais.

As palavras-chave do Xamã são "Ver, Saber, e Poder", isto é, ter a visão do mundo espiritual, adquirir e assimilar os conhecimentos, e daí adquirir o poder de agir sobre os fenômenos,

Em alguns casos, quando os conhecimentos possam ser adquiridos e se possa "ver" pelo pensamento... não se recorrerá mais ao uso destas plantas, sendo o uso das mesmas relativo a uma parte de "iniciação" e "abertura" da visão espiritual.

O ponto básico do Xamã curandeiro é o de poder ir buscar a origem da doença, qual o espírito que a causou por exemplo, para poder efetuar o tratamento, sendo também reconhecido em alguns casos por sua abnegação e a sua capacidade de se tornar "um" com o doente e de atravessar até o final do túnel com ele (sendo uma virtude primordial do verdadeiro curador, ligado a compaixão).

O Xamã é um especialista do trânsito entre o Além e o plano terreno, se tornando também um canal mediúnico para as manifestações de entidades invisíveis.

Concluindo esta apresentação sucinta do mundo xamânico, podemos dizer que, neste momento evolutivo, aonde a Mãe Terra realiza justamente uma grande "Dança Ascensional" (o que a tradição indígena chama de "Arapoty", a grande primavera cósmica(4)), nestes tempos de expansão da Consciência Planetária, estes trabalhos - isto é, os trabalhos deste gênero difundidos atualmente e adaptados para a realidade do mundo de hoje - são uma importante e fundamental contribuição de ajuda a esta humanidade que perdeu o fio de sua ligação com a Terra e com o Cosmos!

Eles nos ensinam caminhos de auto-conhecimento, o "Caminho do Coração", e o despertar do Sol Interior inerente a cada ser!...

Nisto tudo existe muito para se aprofundar e desenvolver futuramente, e neste sentido contamos com a contribuição dos nossos irmãos amigos para nos fazer valer dos seus conhecimentos!





"O xamã não foge da vida,

ele é um com a vida e todos os seus aspectos,

e sabe se encontrar com a morte

sem medo, mas com fé e conhecimento..."









Notas:
(1) Fotógrafo de nacionalidade franco-brasileira, nos anos 80 foi importante ativista do "Flor das Águas", núcleo de produção de ervas medicinais da igreja do Céu da Montanha, com um trabalho fortemente identificado com o movimento conhecido como "umbandaime". A partir de 1992 transferiu-se para o Acre onde passou a participar do centro da Madrinha Francisca Gabriel no bairro da Isaura Parente, em Rio Branco. A Revista da Flor das Águas, daonde extraímos este artigo, versava sobre Ayahuasca e Natureza, sendo editada e produzida por ele de modo totalmente independente, mas constou infelizmente de apenas duas edições. Atualmente Yan reside novamente na França.

(2) Isto foi uma palestra de Sandra Olivieri, Xamã Branca e Mestre de Reiki, uma pessoa bonita.

(3) CHAUMEIL, Jean-Pierre. "Ver, Saber, Poder". Ed. do Ehess, Paris, 1983.

(4) Informação obtida a partir de um pequeno contato com a "Nova Tribo", espaço cultural difundindo a arte e os conhecimentos dos povos indígenas. "Nova Tribo Cultural" - Rua República de El Salvador, 58 - Guarapiranga - São Paulo.

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