Resumo síntese do livro " O quarto Caminho" de P. Ouspensky - elaborado por Henriqueta Estrela
Todos conhecemos já os centros que formam o nosso ser: instintivo, motor, emocional e mental.
Alguns centros dividem-se em duas partes, uma positiva e outra negativa. Isso é muito claro no centro instintivo (prazer e dor) e no centro mental (afirmação e negação).
Numa primeira abordagem, somos levados a pensar que o centro emocional também se divide em parte positiva e parte negativa, com a correspondente manifestação de emoções agradáveis e desagradáveis.
Contudo, isso não é assim; as emoções positivas não pertencem ao nosso centro emocional comum; elas decorrem do Centro Emocional Superior, enquanto que todas as emoções negativas (as emoções violentas ou depressivas), no fundo a maior parte do nosso sofrimento emocional, não são naturais.
Essa parte de negatividade que cresce dentro de nós como uma excrescência ou um tumor, tem origem na aprendizagem que fazemos, desde a mais tenra infância, por imitação das pessoas que nos cercam e que as expressam continuadamente e por todas as formas.
A grande parte das emoções negativas é mecânica; por isso elas devem ser observadas e consciencializadas para que as possamos transformar, dado que só se consegue mudar aquilo de que somos conscientes.
Toda a expressão de emoções negativas (cólera, raiva, inveja, prepotência, vaidade, orgulho), redunda num esvaziamento de energias.
A nossa máquina pode gerar energia suficiente para um bom funcionamento dos nossos centros, mas em geral dissipámo-la através da expressão de emoções negativas.
E as pessoas nem se dão conta de como essa dissipação esgota rapidamente toda a energia que deveria ser aplicada ao correcto funcionamento de todos os centros.
Os estados negativos como a ira a ansiedade, o ódio, a mágoa a insatisfação, a inveja, o ciúme etc., não são por nós reconhecidos como negativos mas como totalmente justificados. A interpretação errónea considera tais estados causados por outra pessoa ou por qualquer factor externo e não por nós mesmos. O ego não é capaz de distinguir uma situação da sua interpretação. Dizemos “ que dia horrível” sem nos apercebermos de que a chuva, o frio, o vento ou a condição a que reagimos, não é horrível. São o que são. O que é horrível é a nossa resistência interior e as emoções causadas por essa resistência. Se fossemos capazes de observar as alterações fisiológicas que têm origem no nosso corpo quando somos dominados por esses estados negativos, o modo como afectam o funcionamento do nosso sistema cardíaco digestivo e imunitário, tornar-se-ia claro que esses estados são de facto patológicos, são formas de sofrimento e não de prazer.
Contudo, sempre que nos encontramos num estado negativo, há algo, dentro de nós que deseja a negatividade, que retira prazer dessa negatividade, ou que crê que tenha alguma utilidade.
As emoções negativas podem ser dominadas e destruídas, porque elas não decorrem de um centro verdadeiro; elas funcionam a partir de um centro artificial, que pode ser eliminado. Podemos fazer isso, criando atitudes mentais correctas quando compreendermos que as emoções negativas não servem para nenhuma finalidade útil. Enquanto pensarmos que são inevitáveis ou mesmo úteis para a expressão de si mesmo, não podemos fazer nada.
Se conseguirmos ficar conscientes de quando a negatividade se instala dentro de nós, isso significa que o ego está a enfraquecer e a consciência a ganhar mais força.
Podemos detectar as emoções negativas porque elas se caracterizam por duas coisas: identificação e imaginação negativa. Há que estar atentos, observar e perceber quando elas estão no começo. Aí, poderemos detê-las; não quando estamos imersos nelas. Por exemplo, não nos devemos deixar arrastar pelo mau humor, não devemos justificá-lo.
As emoções negativas não são produzidas pelas circunstâncias; elas estão dentro de nós, são produzidas por nós mesmos. Nenhuma emoção negativa pode ser produzida por causas externas se não o quisermos realmente. Temos emoções negativas, porque nos permitimos tê-las, porque as justificamos e as explicamos colocando a culpa nos outros ou nas circunstâncias exteriores. Isto impede que lutemos contra elas,
As emoções negativas afectam todos os centros; não podemos ter uma emoção negativa e, ao mesmo tempo fazer outra coisa bem: comemos erradamente, trabalhamos erradamente, tudo se ressente da emoção que nos invade. Assim, nenhum desenvolvimento será possível, enquanto elas continuarem a existir em nós e a dominar-nos.
A melhor forma de controlar as emoções negativas, é aprender a não as expressar. Só depois poderemos tentar lutar contra elas o que é impossível de realizar enquanto elas se expressarem livremente.
Isto só se conseguirá com a não identificação e esta com a capacidade de desenvolver um pensamento correcto. Na verdade, se formos capazes de compreender em todas as circunstâncias, que nós mesmos somos a causa de tudo o que nos acontece, deixaremos de fazer contas internas (a consideração interna, que decorre basicamente da imaginação) e aos poucos, as coisas poderão ir mudando.
Se é certo que não podemos fazer nada, no sentido de que não podemos mudar o que sentimos num dado momento, não podemos lutar directamente contra elas quando as emoções nos assolam e nos toldam o raciocínio, podemos contudo pensar sobre isso, observar isso.
Essa observação deverá tornar-se profunda e sistemática, não apenas ligeira, superficial ou pontual. Deve haver um desejo sincero de mudança.
O controle do Centro Emocional requer a lembrança de si, um novo estado de consciência que deve ir aos poucos, substituindo a mecanicidade que nos caracteriza. A possibilidade de fazer alguma coisa poderá ir então crescendo, gradualmente.
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