sábado, abril 07, 2012
CÓLERA: UMA EMOÇÃO DESTRUTIVA
(Transcrito do JOURNAL OF MENTAL HEALTH de setembro de 1968)
Descobrimos e firmemente acreditamos que a cólera é uma emoção totalmente destrutiva, na qual jamais vimos algo de bom. A cólera prejudica quem a sente e geralmente fere as pessoas às quais ela é dirigida. Alguém sempre sai prejudicado, isso nunca falha. Essa faceta da cólera – a de ferir, prejudicar por si só já a caracteriza como uma emoção destrutiva, negativa, que precisa ser evitada a todo custo.
Quando afirmamos essas coisas, é comum ouvirmos contestações: “Ah, mas a cólera às vezes não é boa?”, “Não é ela que faz com que as pessoas ajam positivamente quando necessário, para que injustiças sejam reparadas?”, “Não é a cólera uma emoção necessária, cuja finalidade é boa quando usada adequadamente?”, “Ela não é necessária para a nossa sobrevivência?”, “O simples fato de a cólera existir não é prova suficiente de que tem uma boa finalidade?”, “Não seríamos todos uns grandes covardes sem a cólera?”. A todas essas perguntas e a muitas outras no mesmo sentido podemos responder com um sonoro NÃO! A CÓLERA NUNCA É BOA. ALÉM DE SEMPRE PREJUDICAR A PESSOA QUE A SENTE, ELA GERALMENTE ACABA PREJUDICANDO OUTRAS PESSOAS TAMBÉM. E NÃO É ÚTIL EM NENHUMA SITUAÇÃO.
Muita gente erroneamente acredita que a cólera é necessária para que possamos agir positivamente no sentido de reparar injustiças. Não é verdade. Podemos perfeitamente agir de forma positiva SEM CÓLERA. Na realidade, toda ação correta é praticada sem cólera. Não temos dúvida quanto a isso. Já passamos pelas duas situações e conhecemos perfeitamente os aspectos destrutivos da cólera. Sabemos que ela faz a pessoa “perder a cabeça”, dizer coisas de que vai se arrepender mais tarde ou que poderão causar danos irreparáveis a si mesma e a outras pessoas, provocar sentimento de culpa e remorso, podendo ainda arruinar uma situação de tal modo que chegue a ponto de destruir tudo o que de bom possa existir nessa situação.
Procure refletir sobre as ocasiões em que você esteve encolerizado. Não poderá deixar de admitir, sendo sincero, que as coisas poderiam ter sido resolvidas de maneira mais adequada se você não tivesse ficado com tanta raiva. Se alguma situação foi resolvida a contento, isso aconteceu a despeito da cólera, e não por causa dela.
A pessoa que se encoleriza perde o controle de si mesma. Faz e diz coisas que não faria ou diria se não estivesse sendo movida pela cólera. É deplorável não saber controlar-se. Na verdade, a pessoa dominada pela cólera não pode ser considerada realmente responsável por seus atos, embora o seja, é claro, sob o ponto de vista moral. O que estamos querendo frisar é que essa pessoa deixa de ser ela mesma, uma vez que faz e diz coisas que não faria ou diria se estivesse em seu estado normal.
Ao saber que poderá ser despedido e ficar em apuros para conseguir emprego em outro lugar, um funcionário pode, por exemplo, chegar a insultar o chefe num acesso de cólera. Sem dúvida nenhuma, isso é não saber controlar-se, é insanidade. Se o seu descontentamento é legítimo, ele bem que pode, ao contrário, procurar o chefe para expor o seu caso, SEM CÓLERA naturalmente. Qual dessas duas atitudes é a recomendável? Obviamente a segunda, uma vez que poderá resultar numa solução satisfatória. Não há nenhum exagero neste exemplo. Toda situação em que haja manifestação de cólera é de extrema gravidade, dado o aspecto violento dessa emoção. Por si só, entretanto, nenhuma situação provoca a cólera. O que a provoca, na verdade, é a reação da própria pessoa às situações em que se vê envolvida.
É comum as pessoas apresentarem exemplos de situações que, segundo acreditam, inevitavelmente provocam a cólera. E usam expressões tais como “justa indignação”, “cólera justificável”, etc. Afirmamos categoricamente, entretanto, que não existe nenhuma situação que justifique a cólera, como também não existe o que classificam como “justa indignação”.
Qualquer situação pode ser enfrentada de maneira satisfatória sem cólera, que não é absolutamente necessária para que se faça o que deve ser feito. Pelo intelecto e com calma, pode-se muito bem perceber quando uma situação é prejudicial e precisa ser corrigida, ponderar em seguida sobre o que deve ser feito, e pôr em prática o que for decidido. Tudo sem cólera, naturalmente. Sabemos que isso é possível e que funciona, pois nós mesmos, embora já não o façamos mais, éramos dos que costumávamos ficar encolerizados. Descobrimos, porém, que as situações podem ser eficazes e adequadamente controladas sem cólera. Somos capazes agora de agir e conseguir reparações de erros ou injustiças sem nos deixarmos dominar por essa emoção. Realmente, não deixa de ser um verdadeiro milagre essa nossa transformação!
Também achávamos que era legítimo sentir cólera. Tínhamos muitas histórias e exemplos para tentar “provar que a nossa cólera era justificada”. Acabamos, porém, nos convencendo do contrário. Somos capazes agora de reagir com serenidade a situações que antes nos serviam de desculpa para justificar nossos acessos de cólera. Como já passamos pela experiência de sentir e de não sentir cólera, podemos enfaticamente assegurar que ela é sempre nociva. Quando refletimos sobre as situações nas quais nos deixávamos encolerizar, podemos perceber claramente que estávamos errados em cada uma dessas situações.
Agora que já não sentimos cólera, nossa vida é muito boa e feliz. Era angustiante e infeliz quando nos deixávamos levar por essa emoção, por mais ligeira que fosse. A cólera também provoca o surgimento de outras emoções torturantes. Quem se encoleriza geralmente planeja vingança, sente autopiedade, joga a culpa em outras pessoas, e acaba sendo vítima da depressão.
O fato de a cólera poder ser sentida pelos seres humanos não é razão suficiente para que seja usada ou justificada. A sua inclusão no rol das emoções humanas não quer dizer que ela seja benéfica. Qualquer pessoa também é potencialmente capaz de cometer um assassinato. Isso, entretanto, não significa que o desejo de matar deva ser realizado só porque ele existe. Argumentar nesse sentido é um absurdo. É até possível que não haja nenhum ser humano que não tenha alguma vez, em algum lugar, por uma fração de segundo que fosse, sentido o desejo de matar. Cremos, porém, que todo o mundo concorda que não devemos absolutamente dar vazão a esse desejo. Podemos, portanto, rejeitar definitivamente esse argumento de que uma emoção deve ser considerada boa simplesmente porque ela existe.
Sabemos que todos os seres humanos estão sujeitos a sentir cólera, e que também não se consegue eliminá-la completamente. Mesmo com a melhor das intenções e gozando de saúde mental, a pessoa pode às vezes ficar irritada, enraivecida, seriamente zangada. Entretanto, quando se dá conta do poder destrutivo da cólera e procura viver sem ela, em espírito de amor e cooperação, essa emoção pode ser reduzida e controlada até chegar a não lhe causar mais nenhum distúrbio. Sua vida será então plenamente feliz.
A pessoa que alimenta sua cólera COM TODA A CERTEZA FICARÁ MENTAL E EMOCIONALMENTE DOENTE. É só experimentar para ver. A cólera gera doença, enquanto que o amor resulta em felicidade. Se você estiver emocionalmente equilibrado, por certo vai concordar conosco. Se estiver dominado pela cólera e doente, provavelmente vai discordar. Neste caso, seja sincero e tente viver sem cólera antes de chegar a uma opinião definitiva. E se ainda continuar sentindo cólera e com a vida transtornada, muito dificilmente estará em condições de argumentar conosco. Só poderá falar com real conhecimento de causa quando tiver experimentado as duas coisas: a vida com cólera e a vida sem cólera. Como já temos experimentado de ambas, sabemos muito bem o que estamos dizendo. Agora, se você conseguir realmente viver sem cólera e mesmo assim achar que ela é boa, venha discutir o assunto conosco. SEM CÓLERA, é claro. Tendo então passado por essa experiência, estamos certos de que você vai concordar conosco a respeito dessa emoção.
Não estamos absolutamente pregando um pacifismo indiferente. Achamos que as decisões que se façam necessárias devem ser tomadas – mas que sejam tomadas sem cólera. Resultados muito mais satisfatórios são conseguidos quando agimos sem cólera. É claro que sempre há situações que precisam ser corrigidas, às vezes encontramos pessoas que nos ofendem, nos maltratam. A cólera, porém, não pode ser considerada a reação inevitável. Quem ofende, quem maltrata, demonstra encontrar-se mais doente do que a vítima de suas agressões. Só merece compaixão. Não se deve querer pagá-la na mesma moeda. Medidas podem ser tomadas, naturalmente, para que desista de suas afrontas, porém sem que se queira pagar na mesma moeda. Quem se vinga outro resultado não consegue senão prejudicar-se seriamente.
Há emoções que têm aspectos positivos e aspectos negativos. A cólera não é uma delas, uma vez que se mostra totalmente negativa, nada tem de positivo. O medo, por exemplo, apresenta ambos os aspectos. Quando não se desvia da normalidade, ele é necessário para a sobrevivência, ajuda-nos a evitar o perigo. Esse aspecto é positivo. Entretanto, aquele medo nebuloso e penetrante da doença emocional, é o medo em seu aspecto negativo e destruidor, que pode chegar a ser totalmente incapacitante. E isso qualquer neurótico pode confirmar. Quem sente esse tipo de medo muitas vezes nem sabe do que é que realmente tem medo. Havia muitos entre nós que tinham medo de sair de casa e até mesmo de atender telefone. E não sabiam por quê. Era medo com M maiúsculo. No caso da cólera, não conseguimos descobrir nenhum aspecto positivo. Ela nunca nos ajudou, como acontecia e ainda acontece com o medo positivo. Só serviu para prejudicar-nos. Sempre que a ela recorríamos, saíamos perdendo, sofrendo amargas consequências.
“CÓLERA: A EMOÇÃO DESTRUTIVA” era o título que estivemos propensos a dar a este artigo. A cólera, entretanto, não é a única emoção destrutiva, sendo até bem possível que não seja a mais importante de todas, mas apenas uma entre muitas. Dentre elas, podemos mencionar o medo em seu aspecto negativo, a autopiedade, o ressentimento, o ódio, a inveja, o ciúme, a impaciência, a intolerância. Um inventário dos defeitos de caráter certamente revelará muitas outras emoções dessa natureza, as quais podem prejudicar seriamente quem as alimenta.
Lançamos aqui um desafio: se você acha que pode sentir cólera e ser feliz, vá em frente, tire o máximo proveito disso e depois venha contar-nos o resultado. Aí, então, se estiver verdadeiramente feliz com sua cólera, retiraremos tudo o que dissemos neste artigo. Ainda estamos para ver uma pessoa que se deixe ficar encolerizada e seja feliz. Não foi fácil escrever as palavras “encolerizada” e “feliz” associadas uma à outra. É coisa que parece fora do normal. Experimente. Pegue papel e lápis e tente escrever, por exemplo, “uma pessoa encolerizada e feliz”. Nossas mentes simplesmente se rebelam. “Encolerizada” e “feliz” não se harmonizam. Seria o mesmo que escrever “um pessoa rancorosa, muito afetuosa”. Verdadeiro absurdo! Agora, se você continua achando que pode sentir cólera e ser feliz, seria melhor que verificasse seus conhecimentos da língua antes de querer convencer-nos dos “bons” aspectos dessa emoção.
Não estamos nos fundamentando em princípios morais para declarar que a cólera é nociva e destrutiva. Afirmamos isso porque ela causa sérios danos às pessoas que a sentem, e esse é um motivo de ordem prática, fundamentado na experiência. As teorias podem ser postas de lado. A verdade é que a cólera realmente prejudica, e por isso ela é nociva e destrutiva.
Se você deseja, tanto quanto nós, ter paz de espírito e felicidade, ponha a CÓLERA na categoria dos venenos. Destrutiva como é, ela pode até mesmo matar. Pessoas há que acabam com a própria vida ou cometem assassinato movidas pela cólera. Ela é de fato venenosa. Muitas emoções são venenosas, e seu veneno pode espalhar-se por todo o organismo e devastá-lo. Até a morte, repetimos, pode causar. Embora possivelmente mais fraco que o arsênico ou a estricnina, não deixa de ser tão nocivo quanto eles. Precisamos colocar um rótulo com a caveira e os dois ossos cruzados na cólera se quisermos garantir o nosso bem-estar. Outro título que também serviria para este artigo podia muito bem ser o seguinte:
“CÓLERA: UMA EMOÇÃO VENENOSA”
(Texto retirado do Livro Vermelho – p.64 a 70)
Fonte: Terapia_DozePAssos@yahoogrupos.com.br
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