segunda-feira, abril 02, 2012

EMOÇÃO VIOLENTA É INSANIDADE, E, VICE-VERSA

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EMOÇÃO VIOLENTA É INSANIDADE, E, VICE-VERSA,
INSANIDADE É EMOÇÃO VIOLENTA
(Transcrito do JOURNAL OF MENTAL HEALTH de novembro de 1968)

            Se mantivermos abertos os olhos, os ouvidos e a mente, podemos aprender muito em fontes as mais diversas, algumas das quais bem surpreendentes. Em recente episódio da série “JORNADA NAS ESTRELAS”, apresentada na televisão, a principal personagem feminina disse ao Sr. Spock: “Emoção violenta é insanidade”.

            Nós que somos de Neuróticos Anônimos não podíamos deixar de concordar plenamente com essa afirmação. Ela quase nos fez saltar da cadeira, pois estava tudo resumido ali, EM QUATRO PALAVRAS APENAS. A afirmação de que “emoção violenta é insanidade” diz mais e encerra mais verdades do que muitos livros eruditos sobre a doença mental e emocional.

            EMOÇÃO VIOLENTA É, DE FATO, INSANIDADE. E, reciprocamente, INSANIDADE É EMOÇÃO VIOLENTA. Reflita sobre isso. Temos certeza de que vai concordar conosco. Procure lembrar-se de todas as emoções violentas que tenha sentido e verá que você estava de fato insano na medida exata da violência dessas emoções. Por outro lado, procure lembrar-se de todo ato “insano” que tenha praticado, ou momento de “insanidade” que tenha tido, e verá também que a causa foi emoção violenta.

            É muito importante ressaltar que pode ser qualquer emoção violenta. O resultado sempre será insanidade. Em nosso próprio caso, mesmo quando julgávamos estar arrebatadamente “apaixonados”, isso também era insanidade. Reflitamos um pouco. Quando estávamos nesse arrebatamento de “paixão”, fazíamos coisas realmente malucas. Éramos insanamente ciumentos e possessivos, exigentes, desconfiados, e nos sentíamos extremamente inquietos. Achávamos que só éramos “felizes” quando em companhia da “pessoa amada”. Usávamos expressões tais como “o sofrimento de se estar apaixonado”, “o misto de prazer e sofrimento de se deixar apaixonar”, “a experiência do verdadeiro amor nunca foi suave”. Bem, expressões como essas não passam de tolices. São afirmações resultantes de mentes perturbadas, de pessoas tomadas de emoção violenta, vale dizer, de insanidade.

            Uma vez que já tivemos em ambos os lados da fronteira entre a doença e a saúde mental e emocional, podemos afirmar que o amor, o verdadeiro amor, nada cobra nem exige, ele é todo doação. Não tem nada a ver com o exigente egoísmo que manifestávamos quando doentes. Não é nenhum tormento, nenhum misto de prazer e dor, mas um sentimento crescente de generosidade e libertação, que proporciona bem-estar a quem ama, bem como às pessoas de suas relações. Além disso, também é muito importante compreender que o amor não é uma emoção violenta. Ao contrário, o amor é uma experiência doce, uma suave sensação de paz.

            O que chamávamos de amor quando nos deixávamos envolver por emoções violentas nada mais era do que puro egoísmo. É certo que desejávamos amar alguém. Éramos, porém, ciumentos e desconfiados por causa da nossa grande preocupação de querermos a pessoa amada EXCLUSIVAMENTE PARA NÓS MESMOS. Não era de nossa natureza dar-lhe liberdade de ação, desenvolver um sentimento recíproco de confiança. Além de exigentes, sempre tentávamos manipular, controlar tudo. E isso, na verdade, era insanidade em alto grau.

            Começamos falando da emoção violenta, que chamávamos de “amor” quando estávamos doentes, porque muitas pessoas não iriam reconhecê-la como violenta e geradora de insanidade. Iriam certamente considerá-la uma emoção tranquila, não incluída na classe das emoções violentas de que estamos tratando aqui. Todo o mundo naturalmente concorda que a raiva, o ódio, o ressentimento, etc. são emoções violentas, destrutivas. O que estamos querendo salientar, entretanto, é que qualquer emoção que se mostre violenta é insanidade. O sentimento exagerado de posse e a superproteção também são, na realidade, demonstrações de insanidade. Qualquer “boa” ação levada longe demais torna-se violenta e, portanto, insana. Os cuidados que se dispensam a uma pessoa, por exemplo, podem sufocá-la quando se tomam exagerados. Assim sendo, nossa afirmação é de fato verdadeira: “Emoção violenta é insanidade”.

            Qualquer pessoa que se encontre nas garras de emoções violentas perde o controle de si mesma. E isso é insanidade. Seu intelecto fica totalmente dominado por essas emoções. De certa maneira, ela “deixa de ser responsável por seus atos”, uma vez que fica realmente “fora de seu juízo perfeito”, sendo dirigida por emoções e não pela mente e intelecto. Se você estiver duvidando, procure tirar a prova. Da próxima vez que ficar zangado, deprimido ou ressentido, veja se é capaz de usar normalmente seu intelecto, sua mente. Temos certeza de que não conseguirá. Suas emoções o estarão dominando e sua mente não será capaz de controlá-las. Se estiver zangado, continuará zangado a despeito de qualquer argumento intelectual em contrário que lhe possa ocorrer.

            Se por algum motivo você vier a ficar com raiva de um bom vizinho, por exemplo, argumentos intelectuais dificilmente lhe ajudarão a desfazer-se dessa emoção violenta. Passamos tantas vezes por experiências semelhantes que estamos convencidos de que podemos sentir raiva até de um bom vizinho, embora sabendo que não devíamos ficar enraivecidos, embora argumentando: “mas esse homem tem sido tão legal comigo, até me ajudou a fazer aquele serviço lá em casa; ele não faz questão de me emprestar suas ferramentas nem de me dar carona em seu carro; além disso, sua mulher sempre toma conta das crianças quando precisamos”. Muito provavelmente, porém, a conclusão será esta: “Tudo isso é verdade, não nego, MAS MESMO ASSIM EU ESTOU COM RAIVA DELE”.

            Freud estava certo quando disse que as emoções são irracionais. Elas não se submetem nem à razão nem ao bom senso. E as emoções violentas, então, não se submetem à lei alguma, apenas à compulsão de se manifestarem, de atingirem seu objetivo. A pessoa, portanto, não tem nenhum controle sobre as emoções que se tornam violentas – seu intelecto não é capaz de controlá-las. E isso é insanidade.

            Quando falamos de insanidade, estamos nos referindo especificamente à doença mental e emocional. Sabemos que a palavra “insanidade” não tem mais sentido fora da terminologia legal, tendo perdido, portanto, o significado que antigamente lhe era atribuído na terminologia médica profissional. Na prática jurídica, ela é empregada para indicar o estado de uma pessoa que “não é responsável pelos atos que praticou em determinado momento porque havia perdido o controle de si mesma e não podia discernir o certo do errado”. Hoje em dia, as pessoas são consideradas mental e emocionalmente doentes, nunca “insanas”.

            Todavia, como a palavra continua fazendo parte do vocabulário da linguagem cotidiana, significando doença mental e emocional, a afirmação “Emoção violenta é insanidade” faz sentido, sendo, portanto, válida. É preciso não nos esquecermos de que “insanidade” também quer dizer “falta de senso, insensatez”. E a nossa conduta sob emoção violenta em nada se mostrava sensata. Não era nada sensato quebrar móveis, insultar o chefe, brigar com a mulher ou com o marido, ficar emburrado, irritadiço, malcriado.

            Esperamos ter provado que EMOÇÃO VIOLENTA É INSANIDADE. Queremos demonstrar agora o inverso, isto é, que INSANIDADE É EMOÇÃO VIOLENTA. Se você examinar bem as ocasiões em que perdeu o “controle”, em que se mostrou mental e emocionalmente doente, agindo sem qualquer sensatez, verá que EM TODAS ESSAS OCASIÕES você estava dominado por emoção violenta. As pessoas mental e emocionalmente doentes se mostram cheias de raiva, ódio, ressentimento, autopiedade e outras emoções igualmente violentas. A doença mental e emocional é isso mesmo – emoção violenta. Quando a emoção violenta é removida, a pessoa fica boa, recupera-se. Insanidade, portanto, nada mais é do que emoção violenta.

            A insanidade também é conhecida, muitas vezes de forma depreciativa, como sendo “perder a cabeça”, “maluquice”, “perder o controle” (de quê? – das emoções, é claro), “entrar em órbita”, “birutice”. Pessoas há que chegam a cometer assassinato em consequência de um “acesso de cólera”, de um “acesso de paixão”, etc., coisa que é descrita e aceita como insanidade. Podemos ver, portanto, que insanidade é de fato emoção violenta.

            Não há nada de errado com a mente, com o intelecto, na doença mental e emocional, na “insanidade”. As pessoas que sofrem desse mal quase sempre têm um Q.I. elevado. Mesmo em estado de profundo tormento mental e emocional, elas são capazes de realizar com precisão trabalhos intelectuais complicados QUANDO A ISSO DE VEEM OBRIGADAS. Nós o sabemos muito bem, pois foi exatamente o que fizemos muitas vezes.

            Vamos então falar um pouco de nossas experiências pessoais a fim de esclarecer esse detalhe. Tivemos companheiros que haviam sido diagnosticados como psicóticos e considerados “loucos”. Muitos haviam sido submetidos a tratamento por meio de choques e tomado medicamentos de todos os tipos. Entretanto, mesmo nas profundezas dessa “insanidade”, eles conseguiam pagar suas contas, preencher o formulário do imposto de renda, cuidar de seus negócios e da correspondência, bem como dar conta de muitas outras tarefas SE REALMENTE TIVESSEM QUE FAZER ISSO.

            Grover conhece o caso de uma psiquiatra, diagnosticada por vários profissionais como alcoólatra e esquizofrênica, que vive embriagada, sempre doente. Quando chega a época de renovar sua licença para exercer a medicina, ela se reanima, consegue dominar-se, apresentar-se à Junta Examinadora e obtém a renovação. Volta depois para a doença e a garrafa. E não é só isso. Embora diagnosticada como alcoólatra e esquizofrênica-paranóica, recebendo tratamento há anos, ela consegue manter-se atualizada quanto à literatura e informações no campo da medicina e psiquiatria, bem como quanto a tudo que seja de seu interesse. O que queremos destacar aqui é o fato de que ela consegue fazer tudo isso no estado em que se encontra, evidenciando assim que NÃO HÁ NADA DE ERRADO COM O SEU INTELECTO, APENAS COM AS SUAS EMOÇÕES. Trata-se de um caso que pode ser averiguado porque é real e contemporâneo.

             Descobrimos que a eliminação das emoções violentas resulta em recuperação. Aprendemos através de duras experiências que EMOÇÃO VIOLENTA É INSANIDADE, e que, inversamente, INSANIDADE É EMOÇÃO VIOLENTA. Nosso desejo agora é viver de maneira tranquila, sem emoções violentas de espécie alguma. E enquanto fizermos isso, estaremos bem e melhorando cada vez mais, pois é perfeitamente possível a gente sentir-se sempre “melhor do que simplesmente bem”.

            Da próxima vez que você se sentir tentado a permitir que uma emoção violenta chegue ao extremo, lembre-se de que EMOÇÃO VIOLENTA É INSANIDADE. Até mesmo ficar entusiasmado demais com um acontecimento feliz é insanidade, é emoção violenta, e quem se recupera em N/A sabe disso. Essa EUFORIA – fase maníaca do estado maníaco-depressivo, logo seguida de depressão – é EMOÇÃO EM EXAGERO, MANIA, EMOÇÃO VIOLENTA, INSANIDADE.

            TODA E QUALQUER EMOÇÃO VIOLENTA É INSANIDADE. Se uma pessoa, por exemplo, “ama” seu cachorrinho em demasia, isso também é insanidade. Se “odeia” alguém, isso também é insanidade. Se leva ao exagero seu desejo de ter um carro, uma jóia, a afeição de determinada pessoa, isso também é insanidade. Se fica demasiadamente preocupada consigo mesma, isso também é insanidade. As pessoas normais têm emoções normais, isto é, sem nenhum exagero. Excessos de qualquer natureza são desvios da normalidade. Sendo assim, a pessoa que deseja ter saúde normal e sentir-se bem deve procurar ser normal em todas as áreas de sua vida. Sem exceções. E para atingir essa normalidade, a primeira coisa a fazer é tornar-se emocionalmente normal.

            Chegamos por fim à conclusão de que a expressão “EMOÇÃO VIOLENTA É INSANIDADE” descreve em poucas palavras o que seja a DOENÇA MENTAL E EMOCIONAL. Assim sendo, à pergunta “O QUE VEM A SER, AFINAL, A DOENÇA MENTAL E EMOCIONAL, isso é, INSANIDADE?”, podemos em poucas palavras responder: É EMOÇÃO VIOLENTA.
            Podemos resumir tudo o que dissemos no seguinte:

            EMOÇÃO VIOLENTA = INSANIDADE
            INSANIDADE = EMOÇÃO VIOLENTA
            E, logicamente,
            SAÚDE MENTAL E EMOCIONAL, isto é, SANIDADE =
            EMOÇÕES SERENAS, TRANQUILAS, PACÍFICAS. 

(Texto retirado do Livro Vermelho – p. 57 a 63)
Fonte: Terapia_DozePAssos@yahoogrupos.com.br

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