de José Micard Teixeira
“Mas como posso eu libertar-me de todas estas pretensões se não sei ser outra coisa? Sei que não me sinto feliz, mas como vou poder mudar tudo isto sem ficar com a impressão de que estou a perder?”, insiste você, quase receoso da minha resposta.
Toda a gente sabe que nada é mais assustador do que o desconhecido. E, nesta fase, escolhermos ser quem verdadeiramente somos é o desconhecido, porque durante todo o tempo em que fizemos de conta ser quem não somos, escondemos o que não sabemos e o que receamos, deixámos de ver os aspectos positivos deste processo, ignorámos as possibilidades que uma situação de crise proporciona, esquecemos as qualidades que possuímos e que nos ajudariam a superar tais dificuldades. Isto é, mantivemo-nos agarrados a uma existência condicionada pelo medo e pelo silêncio.
Por isso, e começando a responder à sua pergunta, antes de mais devemos afastar o medo dessa mudança, seja ela qual for. E toda a mudança deve ser levada a efeito por si e para si, sem o envolvimento de ninguém. É uma decisão inteiramente sua, que vem do seu interior. Deve, portanto, necessária e obrigatoriamente, começar em si!
E começa como?
Com a decisão imediata e irreversível de querer ser você mesmo!
E para isso precisa de parar!
Precisa de perceber que você e só você é responsável por essa mudança e que ela não depende nem de mais ninguém nem do meio que o rodeia diariamente. Ninguém pode viver a sua vida por si. É você que tem de mudar. E não caia na armadilha tão comum de dizer: “Se o meu marido/mulher não fosse tão egoísta, seria muito mais fácil para mim mudar.” Ou ainda: “Quem me dera que as coisas fossem diferentes. Aí eu conseguiria mudar.” Ou ainda: “Quero mudar, mas sempre que decido fazer alguma coisa nesse sentido acontece-me de cada vez algo que me faz voltar à estaca zero.”
Se pensar com calma, vai perceber que estas afirmações ou outras do género sugerem que, de uma maneira ou de outra, a responsabilidade da mudança é consciente ou inconscientemente transferida para alguém que não você. Cómodo, não é? A sua dificuldade em mudar encontrou um bode expiatório. Óptimo! “Eu até quero mudar, mas...” pensará. E sente-se desculpado.
Este tipo de afirmações e pensamentos só fazem com que adie permanentemente qualquer mudança, nunca mais se encontre a si próprio e nunca mais empreenda o caminho para gostar de si. Quase sempre a condição prévia para não mudar está no acreditar erradamente que outra pessoa deve mudar antes de nós. Pois acredite que ninguém vai mudar as suas atitudes, hábitos ou comportamentos para que você seja uma pessoa apta a empreender uma mudança, seja ela qual for. E mesmo que apareça alguém, ainda que outros mudem, isso só o satisfará por um curto período de tempo. E sabe porquê? Porque o facto dos outros mudarem para que você possa mudar não é condição suficiente para isso acontecer. O que acontece é que durante algum tempo viverá na ilusão de que a mudança pode agora acontecer, mas, na verdade, ela nunca virá a acontecer, porque você continuará sem mudar. Esse alguém mudou, mas você não. Porque a partir do momento que esse alguém mudou, o seu nível de mudança também passou a ser outro. Isto é, a mudança que você antes ambicionava em si deixa de ser agora a que mais lhe convém, a mudança que você antes acreditava ser a mais acertada para si passa agora muito provavelmente a não ser a mais apropriada, unicamente porque os outros mudaram em vez de você.
Se você acredita que a solução para a sua mudança está nas mãos de alguém, está a garantir-se uma vida de frustração. Ou pior. Está a colocar-se no papel de vítima, porque é mesmo o que será, pondo-se completamente dependente de outros e das suas acções para empreender qualquer mudança em si.
1 comentário:
Este livro é fantástico! Escrito por um ser único! Obrigada! Tem-me ajudado imenso!
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